Aposentado desde o início de 2015, o policial civil Antão Danilo do Amaral, 58 anos, que teve uma vida ligada à segurança pública, acabou vítima da violência que combateu ao longo de décadas. No início da madrugada do último sábado (29), aguardava pela esposa e o filho dentro do carro, em frente a um comércio, em Santa Maria, na Região Central, quando foi atacado por criminosos que pretendiam roubar o veículo. Ao reagir ao assalto, disparou contra um dos bandidos, mas também foi baleado e não resistiu. Três homens estão presos e um adolescente apreendido por suspeita de envolvimento no crime.
Pouco depois da 0h30min, o policial aposentado aguardava dentro da Hilux, estacionada na Rua Coronel Niederauer, na área central de Santa Maria. Era habitual ele ir até as proximidades de onde a família mantém um comércio e aguardar. Quando chegou, avisou a esposa e o filho, para que eles começassem a fechar o estabelecimento. Nesses poucos minutos, aconteceu a ação que resultou na morte do comissário aposentado.
Nesse período em que ele estava estacionado, um Peugeot 207, que havia sido roubado em Porto Alegre e estava com placas clonadas, passou por ali. De dentro do carro, os assaltantes avistaram a caminhonete com os faróis ligados e o motorista ao volante. A polícia acredita que foi neste momento que eles escolheram o alvo e decidiram roubar o veículo. Às 0h36min dois dos assaltantes se aproximaram caminhando pela calçada, mirando a caminhonete.
— Dois caminham pela frente, em atitude suspeita, o que deve ter chamado a atenção do policial que estava dentro da caminhonete. Mas o outro chega sorrateiramente pela lateral. Ele fica assim, atrás da coluna da caminhonete, o que acho que atrapalhou a visão do policial que estava olhando para o outro lado. Quando viu, tinha uma arma apontada para ele. Ele estava armado, houve a reação, o que acabou sendo determinante para a morte dele — narra o delegado regional Sandro Meinerz.
Dentro do veículo, Amaral tinha sacado uma pistola 9 milímetros na tentativa de se defender. O comissário atirou contra o assaltante que lhe apontava a arma, e atingiu o criminoso, mas acabou alvejado por um disparo. Entre o momento em que os criminosos se aproximam, até o tiro que matou o policial, foram apenas cerca de 10 segundos. Mesmo ferido, o assaltante ainda atira novamente, mas somente um disparo atingiu o comissário. Baleado no peito, Amaral morreu ainda no local do assalto.
— A esposa e filho dele ouviram os disparos, viram o sujeito cambaleando. Mas naquele momento não sabiam que era com ele. Desconfiaram, porque vinha da mesma direção da caminhonete, então correram até lá. Ele ainda estava vivo, mas morreu logo depois — explica Meinerz.
A fuga
No momento em que um dos criminosos foi baleado, os dois comparsas, do outro lado, escapam correndo. Aquele que foi atingido chegou a cambalear pela rua, mas também conseguiu escapar. Imagens de câmeras de segurança registraram o momento do crime. Segundo o delegado, havia um motorista no Peugeot nas proximidades e ele foi responsável por resgatar o trio.
— Eles não levaram nada. Trocaram tiros e fugiram imediatamente — explica Meinerz.
Logo depois, o que havia sido alvejado foi deixado em uma Unidade de Pronto-Atendimento (UPA), onde foi socorrido. Com 19 anos, segundo a polícia, ele cumpria pena no regime semiaberto, e possui passagens por tráfico, porte ilegal de arma de fogo e roubo. No dia 21 de outubro, ele saiu da cadeia para trabalhar e não retornou. No dia 27, foi considerado foragido e se encontrava nessa situação até ser preso novamente.
Até esta terça-feira (1º), o suspeito seguia hospitalizado no Hospital Universitário de Santa Maria, mantido sob custódia. Com prisão preventiva decretada, ao receber alta, será encaminhado para o sistema prisional. Os outros três suspeitos de envolvimento no crime foram identificados e localizados pela polícia ainda durante o fim de semana.
Prisões
Ainda no sábado, a polícia conseguiu localizar o Peugeot 207, identificado como o carro usado para levar os assaltantes até o local e posteriormente para a fuga. Um homem de 20 anos, com antecedentes por tráfico e porte ilegal de arma de fogo, foi preso e identificado como o motorista do carro. Também foi preso outro, de 25 anos, com passagens por roubo e porte ilegal de arma de fogo. Os nomes dos presos não foram divulgados pela polícia.
Um adolescente de 16 anos, que já possuía registros de atos infracionais por roubo e furto, também foi apreendido e é apontado pela polícia como suspeito de ser um dos que se aproxima da caminhonete no momento do assalto, pela calçada. Ele foi apreendido e está internado numa unidade de medida socioeducativa.
Durante as prisões dos suspeitos, a polícia localizou um revólver de calibre 38. A suspeita é de que essa tenha sido a arma usada no crime, por isso, foi encaminhada para análise pericial. O delegado optou por não detalhar neste momento o que os suspeitos disseram em depoimento, já que a investigação segue em curso.
A Polícia Civil espera concluir o inquérito do latrocínio (roubo com morte) dentro do prazo de 10 dias a contar da data da prisão dos suspeitos.
— Ainda precisamos tirar algumas dúvidas. Há algumas perícias que precisam ser feitas. Mas na semana que vem, estará tudo com a Justiça — diz o delegado.
Vida dedicada à segurança
Nascido numa família de policiais, com um irmão comissário e outro policial militar, Amaral teve uma vida ligada à segurança pública. Começou a carreira na Brigada Militar em 1982, como soldado, em Porto Alegre. Mais tarde, tornou-se sargento dos bombeiros, e rumou para Ijuí. Em 12 de julho de 1993, aos 29 anos, ingressou na Polícia Civil como inspetor.
Começou sua trajetória em Ijuí, depois passou pelo município de Tupanciretã, mas foi em Santa Maria que atuou por mais tempo. Na 3ª Delegacia de Polícia, esteve por mais de uma década, segundo recordam os colegas. Entre os anos de 2009 e 2012, Meinerz trabalhou com o colega nesta delegacia.
— Excelente policial. Pessoa tranquila, calma. Sabia investigar, tinha a capacidade de entender o fato, a dinâmica. Um policial honesto. É uma ironia do destino, morrer numa situação como essa, após passar a vida inteira combatendo a criminalidade. É muito triste. Era realmente uma pessoa fora da curva — afirma o delegado regional.
Sempre foi um policial dedicado, exemplar. Era um dos primeiros a chegar na delegacia. Estava sempre disposto a trabalhar em horários fora do normal, do expediente
VLADIMIR URACH
Subchefe da Polícia Civil
No início de 2015, como já tinha tempo de serviço como militar, Amaral se aposentou da Polícia Civil, já no cargo de comissário.
Subchefe da Polícia Civil no Estado, Vladimir Urach recorda do policial com admiração. No período em que atuava em Santa Maria, trabalhou diversas vezes com o colega em operações.
— Sempre foi um policial dedicado, exemplar. Era um dos primeiros a chegar na delegacia. Estava sempre disposto a trabalhar em horários fora do normal, do expediente. Era um cara que quando era convocado para operação nunca reclamou. Estava sempre disposto. Foi uma perda lastimável. Embora já estivesse aposentado, sempre foi um exemplo — diz o delegado.
O corpo do policial foi sepultado no domingo (30) no município de São Martinho da Serra, também na Região Central.