A Polícia Federal (PF) cumpre mandados de busca e apreensão contra suspeitos de fraudes em financiamentos imobiliários da Caixa Econômica Federal. A Operação Malfeitoria foi desencadeada na manhã desta quinta-feira (17) e tem quatro alvos, todos no Rio Grande do Sul, onde o crime teria sido cometido. São três endereços em São Leopoldo, no Vale do Sinos, e um em Parobé, Vale do Paranhana.
Segundo a investigação, documentos falsos eram usados na obtenção de empréstimos. O grupo contava até com a colaboração de um contador, a fim de aprovar o cadastro junto à instituição. O prejuízo ao banco público com o esquema é estimado em R$ 765 mil. Cerca de R$ 90 mil, em espécie, foram apreendidos durante a operação, até por volta das 9h desta quinta.
O principal investigado utilizou 11 CPFs para obtenção dos empréstimos, segundo a PF. Contas bancárias vinculadas ao grupo criminoso foram bloqueadas judicialmente.
A investigação iniciou em agosto e partiu da Caixa, que procurou a polícia com a denúncia de dois contratos suspeitos assinados em maio. Os crimes investigados são de fraude em financiamento e associação criminosa.
Não há, até o momento, informações sobre pedidos de prisão ou o detalhamento do que foi apreendido pelos agentes.
Para comprovar renda, criminosos alteravam registros de empresas inativas e incluíam novos sócios
O golpe foi aplicado em duas agências do Vale do Sinos, e teria um esquema organizado para convencer o banco da idoneidade dos supostos compradores. Segundo o delegado de Combate aos Crimes Financeiros e Corrupção, Davi Jacobs de Souza, empresas inativas tinham seus registros alterados na junta comercial do município, a fim de incluir os estelionatários como sócios. A estratégia visava a comprovação de renda para aprovação do crédito.
— O trabalho do contador era captar empresas inativas e incluir o estelionatário como sócio. E às vezes até excluía os antigos sócios — explica o delegado federal.
Não foi identificado prejuízo financeiro aos verdadeiros proprietários destas empresas que tiveram o estatuto social modificado pela organização criminosa.
O grupo também abriu contas bancárias com os dados falsificados, inclusive no Estado de Santa Catarina. A quantidade de CPFs recolhidos e também o histórico dos envolvidos - já investigados por lavagem de dinheiro e presos, no passado – leva a PF a crer que outras atividades ilícitas poderiam ocorrer, com outros prejuízos ao banco público. Além do dinheiro liberado para a negociação dos bens, há prejuízo em cartões vinculados à conta corrente do contrato habitacional e em outros pacotes de serviços da instituição.
Conforme a investigação, os envolvidos são antigos donos de uma agência de viagens que lesou inúmeras famílias, a maioria em busca de conhecer o parque Walt Disney World, nos Estados Unidos. Foi identificado que o suposto corretor de imóveis está envolvido na trama, reitera o investigador.
— O vendedor e o comprador já foram sócios em outro momento. Seria muita coincidência não haver ligação agora — pondera De Souza.
A comunicação entre a Caixa e a Polícia Federal ocorreu a partir da observação dos trabalhadores do banco: eles perceberam que o proponente de um novo financiamento era muito parecido, fisicamente, com outro cliente, mas o nome e os dados pessoais eram distintos. Com isso, foi negado o empréstimo, que seria usado para aquisição de um terreno, também em São Leopoldo.
A PF pediu a prisão preventiva dos suspeitos, mas a Justiça permitiu que eles respondessem às acusações em liberdade.
A reportagem de GZH solicitou posicionamento da Caixa Econômica Federal e aguarda retorno.