Um grupo que vendia armas e munição, principalmente para a caça ilegal, por meio de redes sociais e aplicativos de mensagem é alvo de uma operação policial em nove cidades de cinco regiões do Rio Grande do Sul nesta sexta-feira (18). Participam do cumprimento de 22 mandados de busca e apreensão 143 policiais, entre civis e militares. A ação conta, inclusive, com apoio de um helicóptero.
Até por volta de 11h, oito suspeitos foram presos em flagrante por posse ilegal de armamento. Foram apreendidas 17 armas e pelo menos 400 cartuchos de diferentes tipos de munição. Também houve recolhimento de grande quantidade de carne - que ainda não foi contabilizada e será avaliada pela Vigilância Sanitária.
Segundo a investigação, há pouco mais de um ano os criminosos começaram a usar aplicativos de mensagens para anunciar armamento e publicar imagens de animais abatidos, muitos deles ameaçados de extinção. Também há registro de crueldade com bichos capturados, como um filhote de javali que aparece em um vídeo, compartilhado pelos suspeitos, sendo atacado por cães.
A Operação Arca Especial II é resultado de outra, ocorrida em novembro de 2021, quando 29 pessoas foram investigadas por manter grupos de WhatsApp e lojas virtuais para o comércio ilegal de animas. O diretor da 2ª Delegacia Regional Metropolitana, delegado Mario Souza, ressalta que o esquema alvo da operação desta sexta é semelhante, mas com o acréscimo do tráfico de revólveres, carabinas, pistolas e até de fuzis.
— Além desse armamento, comercializavam munição para todo o Estado. Mas, se na primeira operação apreendemos vídeo com cães matando uma capivara que foi ferida por um caçador, agora obtivemos imagens de um filhote de javali em situação de extrema crueldade por parte do ser humano. Depois da mãe do animal ser morta, o javali foi colocado em uma caixa semiaberta e os criminosos atiçavam três cães que tentavam levantar a caixa e, em alguns instantes, mordiam o animal — ressalta o delegado.
Souza diz que os traficantes usavam grupos fechados no WhatsApp e no Telegram, além de mensagens diretas no Twitter e no Instagram, para anunciar armas e munição. Os pagamentos eram feitos via Pix. Muitos dos caçadores, além de oferecerem armamento, compartilhavam nestes canais imagens de animais abatidos. Uma dessas imagens foi a do filhote de javali, publicada em um grupo de WhatsApp. Muitos dos integrantes aplaudiram a ação criminosa.
Após quatro meses de investigação da Delegacia de Polícia de Nova Santa Rita, Souza obteve 22 ordens judiciais de busca e apreensão que foram cumpridas nesta sexta-feira. As ações foram realizadas em Nova Santa Rita, Canoas, Guaíba, Gravataí, na Região Metropolitana, Portão e Igrejinha, nos vales do Sinos e Paranhana, São José do Sul, no Vale do Caí, Terra de Areia e Três Forquilhas, no Litoral Norte.
O delegado Thiago Carrijo, também da 2ª Delegacia Regional Metropolitana, auxiliou nas investigações. Ele destaca que a maioria das armas traficadas era repassada para a caça ilegal de animais silvestres. No entanto, uma apuração paralela tenta confirmar se fuzis estariam sendo repassados para facções. Ele ainda diz que outro objetivo é apurar quantos animais teriam sido caçados pelos criminosos, bem como a quantidade armas e munição vendidas.
— Entre os animais abatidos, há alguns em extinção que estamos entrando em contato com as autoridades ambientais, mas os suspeitos caçavam principalmente capivaras, tatus e jacarés — ressalta Carrijo.
Denúncias sobre o tráfico de armas e a caça ilegal de animais podem ser feitas por uma linha direta da Delegacia de Nova Santa Rita pelo telefone (51) 3425 9063. Há também o WhatsApp (51) 98459 0259 ou pelo site da Polícia Civil.