Há mais de um mês, os almoços de domingo na casa da auditora contábil Ana Flávia Dornelles de Lemos, 32 anos, não têm a mesma alegria. No dia 15 de setembro, a mãe de Ana, a aposentada Elizabeth da Silva Dornelles, 66 anos, saiu para caminhar no bairro Humaitá, na zona norte de Porto Alegre, e não voltou mais.
— No final de semana é muito difícil. Eu fico pensando se ela tem onde dormir, se tem o que comer. Até quando eu não vou conseguir sorrir 100%? — questiona a filha.
Elizabeth saiu do condomínio onde passava alguns dias com a filha e o genro, na Avenida AJ Renner, no bairro Humaitá, por volta de 14h. Ela vestia uma calça verde de moletom, um casaco cinza escuro e um tênis preto. A mulher não portava documentos, estava sem os óculos e carregava uma garrafa de água. Ela não tinha telefone celular.
O caso é investigado pela Delegacia de Polícia de Investigação de Pessoas Desaparecidas de Porto Alegre. A pista mais recente obtida pela Polícia Civil foi a localização do Cartão Tri de Elizabeth, que teria sido usado em um ônibus da linha 701-Vila Farrapos por um homem, no dia do desaparecimento dela, às 17h.
Segundo o diretor da Divisão de Homicídios da Capital, delegado Eibert Moreira Neto, a polícia obteve imagens do homem, mas até o momento não conseguiu identificá-lo. Moreira diz que diversas testemunhas já foram ouvidas e que a polícia segue coletando informações que possam levar ao paradeiro da aposentada, sem descartar nenhuma possibilidade.
— As equipes continuam nas buscas por imagens e outras evidências que possam levar à localização de uma pessoa, viva ou morta. Depois de tanto tempo, não podemos trabalhar exclusivamente com a possibilidade de encontrarmos ela viva — explica o delegado.
Trajeto percorrido
Com a ajuda das câmeras de segurança de diferentes estabelecimentos comerciais, a família e a polícia conseguiram traçar o caminho percorrido pela aposentada naquela tarde. O último ponto em que os vídeos registraram Elizabeth foi na subida da Ponte do Guaíba, pela Avenida Sertório, no bairro Navegantes, por volta de 14h20min de quinta-feira (15).
Conforme os registros, ela saiu do condomínio Residencial Laçador pelo portão dos fundos, passou em frente ao mercado que fica ao lado e caminhou pela Rua Battistino Anele em direção à Arena do Grêmio.
Câmeras registraram o momento em que a mulher passou em frente à Arena e pelo DC Shopping. Ao chegar no semáforo da Voluntários da Pátria, embaixo da ponte do Guaíba, na BR-116, ela andou em direção à Avenida Sertório e depois subiu em direção ao vão móvel pelo acesso próximo à Paróquia Nossa Senhora dos Navegantes. Este foi o último ponto em que ela foi vista.
A câmera da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) que fica próxima ao local estava inoperante naquela tarde. Segundo o delegado Eibert Moreira, as câmeras posicionadas sobre a ponte do Guaíba, na BR-116, estão desativadas, pois pertenciam à antiga concessionária da rodovia.
A família já realizou buscas na Ilha das Flores e na Ilha da Pintada, onde Elizabeth trabalhou há cerca de 30 anos e tem conhecidos. Apesar da intensa campanha com distribuição de panfletos, nenhuma das informações recebidas nas últimas semanas era procedente.
Quem tiver informações que possam levar ao paradeiro de Elizabeth pode entrar em contato com a Polícia Civil pelo telefone 0800-642-0121, pelo 197 ou pelo site da instituição.
Dicas de como agir
Em desaparecimentos
- Registre o desaparecimento na polícia assim que for percebido
- Leve uma fotografia atualizada para repassar aos policiais
- Outras informações relevantes no momento do registro são saber se a pessoa tem telefone celular e se foi levado junto, se possui redes sociais, os dados de conta bancária, se possui veículo e qual a placa, locais que costuma frequentar, pessoas com quem mantêm contato (amigos, familiares), se é usuária de drogas e se houve alguma desavença que pode ter motivado o sumiço
- Comunique o desaparecimento aos amigos e conhecidos, que podem auxiliar com informações. Ao divulgar o sumiço, informe os contatos de órgãos oficiais como Polícia Civil e Brigada Militar para receber informações. Isso evita que criminosos interessados em extorquir familiares de desaparecidos se aproveitem da situação
- Outra orientação importante é que as famílias comuniquem a polícia não somente o desaparecimento, mas também a localização. É muito comum os policiais depararem com casos de pessoas que não estão mais desaparecidas, mas que no sistema constam como sumidas porque o registro de localização não foi feito
Se forem crianças ou adolescentes
- Percorra locais de preferência da criança
- Saiba informar quem são os amigos dela e com quem pode estar
- Esteja atento às roupas que a criança ou adolescente está usando e, em caso de sumiço, descreva para a polícia
- Mantenha alguém à espera no local de onde ela sumiu. É comum que ela retorne para o mesmo ponto
- Ensine as crianças, desde pequenas, a saberem dizer seu nome e o nome dos pais
- Quando a criança ou adolescente for localizada, informe a polícia