A facção criminosa alvo de operação em 13 municípios gaúchos nesta terça-feira (11) usou o nome de uma pessoa morta na venda de um dos postos de combustíveis por meio dos quais lavava dinheiro. A informação foi apurada pela investigação da Delegacia de Repressão à Lavagem de Dinheiro do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic).
O morto é Gubian Schlemmer Dornelles Filho que, de acordo com o delegado Marcus Viafore, era líder da organização. Ele foi assassinado em maio de 2022 e, depois disso, teria repassado a propriedade de um estabelecimento comercial a outro homem, que a polícia afirma ser um laranja da facção. O inquérito sobre o homicídio de Dornelles Filho ainda não foi concluído.
GZH foi até o local onde ele foi sepultado, em Viamão, e verificou junto à polícia o atestado de óbito, bem como um documento que repassou, após o assassinato, um estabelecimento comercial em nome de Gubian para outra pessoa.
Segundo a polícia, houve uma venda fictícia: o criminoso que assumiu a liderança do grupo, junto com outro responsável pelo esquema criminoso, usou o nome de Gubian para repassar o posto para um laranja.
De acordo com a Polícia Civil, a organização criminosa adquiriu pelo menos oito postos de combustíveis no Estado. O esquema resultava ainda em concorrência desleal, com os estabelecimentos oferecendo produtos abaixo do valor de mercado.
A Delegacia de Repressão à Lavagem de Dinheiro do Deic descobriu também que um frentista, que trabalhava em um dos postos, era registrado como proprietário do estabelecimento.
Procurado pela reportagem, o Sindicato Intermunicipal do Comércio Varejista de Combustíveis e Lubrificantes do Rio Grande do Sul (Sulpetro) informou que não fiscaliza os estabelecimentos, nem faz monitoramento de preços. O presidente da entidade, João Carlos Dal'Aqua, diz que não tem informação sobre quem seriam os proprietários dos postos investigados e que apoia as autoridades na investigação.
"Fortaleza" na Capital
Gubian, apontado pela polícia como ex-líder do esquema e que seria chamado no meio criminoso de "senhor das armas", era conhecido por ostentar nas redes sociais. De acordo com a apuração, ele postava fotos com veículos de luxo e em imóveis de alto padrão. Uma das imagens publicadas por ele mostra um apartamento duplex, que era dele e agora está à venda.
Viafore afirma que o imóvel é uma verdadeira fortaleza. Além de ser luxuoso, o apartamento na zona norte da Capital tem uma porta de ferro, semelhante às portas auxiliares de cofres bancários. O teto do primeiro para o segundo piso é todo de vidro e removível. O apartamento foi avaliado em R$ 1,6 milhão. A polícia diz que o local tem um forte esquema de segurança, com reforço nas aberturas internas e externas e conta com câmeras de monitoramento.
Operação Benzina
A chamada Operação Benzina cumpriu nesta terça-feira 86 mandados de busca, nove de prisão e 41 de bloqueio de contas bancárias. Participam 477 agentes. Até as 10h30min, 12 prisões foram feitas.
O grupo teve 14 imóveis apreendidos, inclusive um duplex de luxo na zona norte da Capital, além de 14 veículos — Porsche, Ferrari, BMW, entre outros — e uma lancha que atualmente está à venda por R$ 2 milhões. Os imóveis e veículos seguem com os investigados, mas com impedimento de qualquer tipo de negociação até decisão da Justiça. A soma dos valores destes bens também passa de R$ 18 milhões.
Conforme a apuração, o dinheiro lavado foi obtido de roubos a pedestres, celulares, extorsão, receptação, tráfico e roubo a carro-forte. Os nomes dos investigados e dos postos usados no esquema não foram divulgados.
GZH solicitou à polícia o contato do advogado de Gubian, assassinado há cinco meses, para contraponto. A reportagem aguarda retorno para ouvir a defesa do homem.