O primeiro passo era identificar um veículo de luxo circulando por bairros nobres. Depois, perseguir o motorista em uma motocicleta, até conseguir se aproximar dele, para então cometer o assalto e levar o que realmente interessava aos criminosos: o relógio, de preferência da marca Rolex. Era assim que agia em Porto Alegre um grupo que teve quatro suspeitos presos na semana passada na Capital e em São Paulo.
Há um ano, a Polícia Civil vinha buscando identificar quem eram os assaltantes por trás da série de ataques com o mesmo modo de ação. Ladrões abordavam as vítimas, normalmente no trânsito, com intuito de roubar especialmente os relógios. Para se aproximar dos carros, os criminosos usavam motocicletas com baús para simularem serem entregadores. Foram registrados desde o ano passado pelo menos 50 ocorrências na Capital.
Os ataques aconteciam em bairros nobres da cidade, como Bela Vista, Moinhos de Vento e Três Figueiras. Muitas vezes, as vítimas eram abordadas logo após terem deixado restaurantes ou condomínios onde moravam, o que indica que os criminosos poderiam estar monitorando esses locais para tentar identificar alvos. Cada relógio levado tem valor estimado em cerca de R$ 100 mil. Este alto custo e a pré-existência de um mercado de receptação do produto estão entre os pontos elencados para que o Rolex seja a principal escolha deste grupo criminoso.
— Se não tem Rolex, levam outro relógio. Mas não levam carteira, celular, nada. Só relógio e, às vezes, algumas joias. Um observa, outro aborda e é uma atuação em conjunto. Por isso, foram autuados também por organização criminosa — explica a delegada Adriana Regina da Costa, titular do Departamento de Polícia Metropolitana, uma das responsáveis por coordenar a investigação, que envolveu ainda cinco delegacias da Capital.
Ao longo deste ano, a polícia descobriu que embora os ataques acontecessem aqui, os autores e o destino estavam fora do Rio Grande do Sul. Pipocavam em outros Estados informações sobre ataques semelhantes, nos quais assaltantes visavam o mesmo tipo de artigo. Em outubro do ano passado, quatro suspeitos foram presos no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, pelo mesmo crime. Segundo a polícia, um deles agia como olheiro e ficava dentro do aeroporto com uma placa na mão, fingindo aguardar um passageiro, para observar as vítimas e avisar o resto do bando.
O grupo preso no aeroporto era natural de Taboão da Serra, município da região metropolitana de São Paulo. Foi lá também que, em maio deste ano, outros suspeitos do mesmo tipo de crime foram presos por policiais de Salvador, na Bahia.
No início da semana passada foi a vez de a polícia gaúcha viajar até São Paulo para prender um suspeito, também natural de Taboão da Serra. Com prisão temporária decretada, é investigado como autor de roubos em julho do ano passado em Porto Alegre.
Na mesma semana, novos ataques voltaram a acontecer na Capital. Em um deles, na última quinta-feira, dia 30 de junho, um motorista foi perseguido na Avenida Coronel Lucas de Oliveira, no bairro Bela Vista. Em um carro blindado, o condutor não parou, e o criminoso chegou a atirar contra o vidro, mas não conseguiu atingir a vítima nem levar o relógio. No dia seguinte, um desembargador do Tribunal de Justiça foi alvo dos criminosos, desta vez enquanto trafegava pela Avenida Goethe.
Nesta ação, um vídeo ajudou a polícia a identificar a placa de uma das motocicletas usadas pelos criminosos. Os policiais já sabiam que os ladrões de São Paulo costumavam se hospedar na área central da Capital quando vinham ao Estado para cometer os crimes. Os agentes faziam buscas e monitoravam possíveis movimentações do grupo. Ao anoitecer da última sexta-feira, localizaram três suspeitos na Estação Rodoviária de Porto Alegre, enquanto aguardavam ônibus. Dois deles, de 21 e 28 anos, de São Paulo, e o terceiro, de 19, da Bahia. O destino do trio — dois deles com antecedentes por crimes como assalto e receptação — era São Paulo.
— Eles vêm de São Paulo e o destino é São Paulo. É lá que são revendidos os relógios. Estavam voltando após os roubos — diz a delegada Adriana.
Quando foram revistados, segundo o diretor da Delegacia de Polícia Regional de Porto Alegre (DPRPA), delegado Cleber Lima, oito relógios foram encontrados nos pulsos deles. Um dos presos tinha três Rolex no mesmo braço. Na mesma noite, num depósito, foram encontradas as três motocicletas apontadas como sendo as usadas nos assaltos. Dentro do baú de uma delas, estava o revólver que teria sido empregado nos roubos.
Levados para a delegacia, os suspeitos optaram por permanecer em silêncio. O trio foi preso em flagrante pelo roubo ao desembargador — as prisões foram convertidas em preventivas.
Reconhecimento
Logo após a prisão dos suspeitos, vítimas procuraram a Polícia Civil para reconhecer e ter de volta seus pertences. Até esta quarta-feira (6), sete dois oito relógios apreendidos já haviam sido devolvidos aos proprietários, assim como duas pulseiras de ouro. Além dos relógios, as pessoas assaltadas também reconheceram os presos como autores dos crimes. Para a polícia, isso indica que eles se revezavam no momento de cometer os roubos.
Entre os itens recuperados, restam somente um relógio Rolex de cor verde e uma corrente dourada (possivelmente de ouro), que ainda não tiveram proprietários identificados.
— Se a pessoa não registrou ocorrência, pode registrar, desde que tenha o certificado da compra. É importante que as pessoas registrem, pois seguimos com a investigação — afirma a delegada Adriana.
Os próximos passos da apuração é tentar identificar quem são os outros membros do grupo, como os responsáveis por receber em São Paulo os materiais roubados. As vítimas podem buscar o DPM, que fica no Palácio da Polícia (Avenida João Pessoa, 2050, bairro Azenha, em Porto Alegre).
Os presos
- 21 anos, natural da capital paulista, com antecedentes por roubo, receptação e adulteração sinal automotor
- 28 anos, de Taboão da Serra, em São Paulo, com antecedentes por roubo
- 19 anos, natural de Capim Grosso, na Bahia.
- 28 anos, de Taboão da Serra, em São Paulo, com antecedentes por roubos e porte de arma