Oito pessoas que se passavam por integrantes de facções criminosas para extorquir comerciantes no Estado foram presas em uma ação da Polícia Civil. O grupo exigia dinheiro de lojistas e, diante da negativa, passava a fazer ameaças. Conforme a investigação, foram ao menos 81 vítimas dos criminosos ao longo de um ano.
Também foram cumpridos 16 mandados de busca e apreensão, que resultaram no recolhimento de celulares, duas armas de fogo e munições. A apuração segue em andamento, conduzida pela 1ª Delegacia de Polícia de Repressão a Roubos de Porto Alegre. Os nomes dos presos não foram divulgados.
De acordo com a polícia, as prisões ocorreram na sexta-feira (29) em Porto Alegre — prisão em flagrante por porte ilegal de arma de fogo — e em Novo Hamburgo. Mandados também foram cumpridos nas penitenciárias modulada de Montenegro e na estadual da Capital, já que alguns integrantes do grupo praticavam o crime de dentro das cadeias. Dois investigados não foram localizados e permanecem foragidos.
Entre as ordens judiciais de busca, cinco delas se deram dentro de celas localizadas na penitenciária de Montenegro e uma foi cumprida na penitenciária estadual de Porto Alegre. Nesses locais, foram apreendidos celulares que seriam utilizados nos crimes.
Segundo a equipe, uma das armas apreendidas na ofensiva é de propriedade da Polícia Civil. O revólver pertence a um acervo antigo, do ano de 1987, e teria sido subtraído em um furto — a investigação apura o ano em que o crime ocorreu.
Ameaças
De acordo com a investigação, por meio de ligações telefônicas e mensagens via WhatsApp, os criminosos faziam contato com comerciantes de diversas localidades do Estado e, na abordagem inicial, se identificavam como integrantes de facções criminosas com atuação no RS.
Eles utilizavam nomes e apelidos de líderes desses grupos, para causar medo nos lojistas — segundo a apuração da polícia, no entanto, não há indícios de que de fato integravam as facções.
Os criminosos passavam a solicitar uma "colaboração" aos lojistas, que deveria ser paga por meio de transferência bancária e serviria para custear um evento beneficente, que supostamente seria realizado na comunidade próxima ao estabelecimento comercial da vítima.
Diante da negativa dos lojistas em fazer o pagamento, começavam as ameaças: os criminosos afirmavam que os comerciantes, assim como funcionários e clientes, seriam mortos e que as lojas também sofreriam danos.
Alguns comerciantes chegaram a ser procurados pessoalmente pelos criminosos, que cobravam os valores. O grupo é composto, em sua maioria, por pessoas que já estão detidas, recolhidas em estabelecimentos prisionais, com acesso a celulares. Outros envolvidos, que estavam em liberdade, ajudavam a consolidar os delitos, explica o delegado João Paulo de Abreu, titular da Delegacia de Roubos do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic):
— Os criminosos desse grupo estão no RS, sendo que parte já estava presa. Pessoas que estavam em liberdade emprestavam suas contas do banco, para que os comerciantes depositassem as quantias, e depois faziam os saques. Em casos pontuais, esses criminosos iam ao encontro das vítimas, faziam as ameaças pessoalmente e recolhiam o dinheiro. O que foi determinante, nesse trabalho, foi a procura ativa, por parte das vítimas, às nossas equipes, e assim conseguimos investigar os fatos e chegar aos autores.
A investigação da polícia identificou, ao todo, 81 vítimas do grupo, em casos registrados entre maio de 2021 e junho de 2022. As equipes não divulgaram o valor estimado de prejuízo dos lojistas, mas um dos comerciantes, por exemplo, chegou a transferir mais de R$ 5 mil.
Segundo a polícia, um bloqueio de ativos nas contas bancárias dos investigados foi autorizado pela Justiça, no objetivo de evitar que eventuais valores existentes sejam sacados por criminosos. O intuito é usar as quantias para ressarcir as vítimas.
Os crimes se assemelham ao "Golpe da Facção", já mostrado por GZH, que também é feito por meio de mensagens e ligações. Nesses casos, no entanto, os áudios enviados às vítimas eram feitos por pessoas com sotaques de outras regiões do país, e nenhum contato presencial foi feito, segundo a polícia.
A operação realizada na sexta-feira foi batizada de "Colaboração", em referência ao termo usado pelo grupo para cobrar dinheiro de lojistas. No total, dentre diferentes unidades da Polícia Civil, 57 agentes participaram da ofensiva.
O delegado Abreu destaca que o "alinhamento de trabalho" entre Polícia Civil, Ministério Público e Poder Judiciário foi "determinante" para esclarecer o caso.
Como pedir ajuda
De acordo com a Polícia Civil, vítimas que forem contatadas por criminosos exigindo dinheiro devem buscar orientação junto às equipes e registrar boletim de ocorrência. Denúncias podem ser feitas pelo telefone 0800-510-2828 e pelo WhatsApp (51) 98444-0606.