O presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio (Cremerj), o cirurgião ortopédico Clóvis Bersot Munhoz, foi indiciado por assédio sexual contra uma técnica de enfermagem. Conforme a investigação, o caso teria acontecido em um hospital privado na Glória, zona sul do Rio de Janeiro, em agosto do ano passado. O Cremerj nega as acusações, mas informou que, "para uma apuração isenta", Munhoz se afastou do posto.
De acordo com o jornal O Globo, que teve acesso ao inquérito, a técnica afirmou que, durante uma cirurgia, o médico falou que ela era "muito quente", "que deveria ficar perto dele", "que deveria trair o marido pois casara muito cedo", "que se quisesse trair o marido, ele estaria disponível" e ainda "se eu beijar o seu pescoço, você vai gozar rápido". A mulher contou à polícia também que chegou a ser escalada para uma nova cirurgia com o médico e acabou pedindo demissão do hospital.
— Além do depoimento da técnica, temos o testemunho de uma enfermeira do hospital que estava no centro cirúrgico, ouviu os comentários do médico e, posteriormente, o desabafo da colega — contou ao Estadão o delegado Rafael Barcia, da 9ª Delegacia de Polícia, no Catete, na zona sul, responsável pela investigação. — Essa testemunha confirmou a conduta do médico.
O inquérito já havia sido enviado ao Ministério Público Estadual, mas retornou à delegacia com algumas requisições.
— Estamos trabalhando para tentar cumprir as exigências o mais rapidamente possível — disse Barcia.
Entre as exigências do MP, está uma nova tentativa de intimação do médico para prestar depoimento. Segundo o delegado, Munhoz foi intimado por carta e não compareceu à delegacia. Agora, a polícia tentará intimá-lo pessoalmente. A pena para o crime de assédio sexual é de um a dois anos de prisão.
Está nas mãos do Cremerj a decisão da abertura de processo ético-profissional para apurar a conduta do anestesista Giovanni Quintella Bezerra, de 32 anos, filmado no último dia 9 estuprando uma mulher durante uma cesariana no Hospital da Mulher Heloneida Studart, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. O processo do Cremerj determina a cassação do registro profissional do anestesista.
"Comecei a dar plantão com o Clóvis em 1978, no Hospital Miguel Couto; são 44 anos de convívio profissional", afirmou o diretor de comunicação do Cremerj, Sílvio Provenzano, que já foi presidente da entidade. "Conhecendo o Clóvis, estou achando isso muito absurdo. Ele é um sujeito brincalhão, alegre, absolutamente sério. Conheci a sua primeira esposa, conheço a sua segunda esposa, conheço o ambiente familiar dele, me recuso a acreditar na veracidade disso."
Em nota oficial, o Cremerj informou que "tomou ciência pelo estabelecimento de saúde Hospitais Integrados da Gávea S/A (Glória DOr) de que havia um procedimento na 9ª Delegacia de Polícia, no Catete, em desfavor de Clovis Bersot Munhoz, assim como das informações do processo trabalhista em que ele era mencionado".
"Na época", segue a nota, "foi instaurado procedimento administrativo no Conselho e foi solicitado esclarecimentos a respeito do caso. Ele prestou todas as informações, frisando não ter proferido nenhuma das palavras ali mencionadas. Também informou que, no referido dia, havia feito outras cirurgias e que estavam presentes na sala outras pessoas, como médicos, enfermeiras e instrumentadores".
A nota do Cremerj conclui que "após apuração interna não foi encontrado nada em nome de Clóvis Bersot Munhoz, razão pela qual ele tomou posse na presidência do Cremerj em fevereiro de 2022". A reportagem procurou Munhoz, mas não obteve retorno.
Em novo posicionamento, o conselho informou que foi aberta uma "sindicância em seu nome para apurar a denúncia sobre assédio sexual veiculada na imprensa". "O procedimento será encaminhado ao Conselho Federal de Medicina (CFM), que designará o caso para outra Regional, com o objetivo de garantir total isenção e imparcialidade. O Conselho reafirma seu repúdio por qualquer tipo de assédio e trabalha junto das autoridades para coibir essa prática antiética e criminosa", completou.
O Hospital Glória DOr disse que, "desde o primeiro momento em que tomou ciência da acusação", levou o fato ao conhecimento do Cremerj e vem colaborando com as autoridades que estão investigando a denúncia. "O hospital repudia veementemente qualquer tipo de comportamento abusivo ou antiético e afirma que sempre colabora com as apurações em casos de denúncia", concluiu.
O Conselho Federal de Medicina (CFM) informou que não foi comunicado oficialmente pelo Cremerj sobre as denúncias envolvendo o presidente. "Após o recebimento formal do caso, o CFM definirá qual dos outros 26 CRMs será responsável por conduzir as apurações com o objetivo de evitar eventuais conflitos de interesse, preservando a credibilidade do trabalho realizado pela instância de investigação", informou, em nota.
Munhoz foi procurado pelo Estadão, mas não se pronunciou.