A Polícia Civil pretende concluir na próxima semana o inquérito sobre a agressão sofrida por uma mulher enquanto trabalhava na portaria de um prédio residencial de Santa Maria, na última quinta-feira (17). Uma câmera de segurança do edifício mostra Ana Lúcia dos Santos Cardoso, 38 anos, sendo agarrada pelo pescoço por um morador do local. Ela afirma ainda que foi vítima de ofensas racistas.
De acordo com a delegada Débora Dias, titular da Delegacia de Proteção ao Idoso e Combate à Intolerância, o homem que aparece nas imagens seria ouvido nesta sexta-feira (25), mas o interrogatório foi cancelado. Ele deverá prestar depoimento no início da semana que vem.
— Instauramos o inquérito por injúria discriminatória, o que não afasta que, no final, depois da instrução, cheguemos à conclusão de que ocorreu o crime de racismo, além da ameaça. Ouvimos o síndico do condomínio e reinquirimos a vítima. Ela ratificou o que havia dito e trouxe elementos importantes ao inquérito. Sabemos que é um caso de grande repercussão, mas não podemos dar detalhes mais específicos sobre os depoimentos para não prejudicar a instrução. Estamos trabalhando para concluir esse inquérito na próxima semana com remessa ao Judiciário — detalha a policial.
Ana Lúcia prestou o primeiro depoimento na sexta-feira (18), quando fez o registro de ocorrência. Na última terça (22), ela e o síndico do prédio falaram novamente à polícia.
Segundo a porteira, a agressão ocorreu após ela ter autorizado a entrada de um oficial de Justiça que foi entregar notificação de despejo ao morador. Ela alega que tentou contato telefônico com o homem, para que ele descesse, mas não conseguiu.
Após receber a notificação, o homem foi até a portaria, onde passou a agredir a funcionária. A vítima relata ainda ter sido ofendida.
— Ele me pegou na camisa, me atirou para trás e começou a dizer: "Eu não admito polícia e nem oficial de Justiça na porta do meu apartamento". Eu disse que nós não tínhamos como barrar, aí ele disse "Se acontecer outra vez, vou quebrar a tua cara. Tu, negra, não tem competência para trabalhar aqui" — relata.
Ana trabalha há 12 anos no mesmo prédio e disse que nunca tinha passado por nada parecido.
— Espero por Justiça, que isso não aconteça mais com nenhuma mulher, com nenhum homem, é preciso denunciar esse tipo de situação. Sinto-me impotente. A gente sai para trabalhar, deixa a família, os filhos, e aí acontece uma coisa dessas.
O nome do morador não foi divulgado pela Polícia Civil. A reportagem de GZH tenta contato com os advogados dele, mas ainda não conseguiu retorno.