Principal suspeito de assassinar a facadas a ex-namorada Lourdes Clenir Oliveira de Melo, 48 anos, em Estância Velha, no Vale do Sinos, Léu Viera de Moura, 55, foi preso ao amanhecer desta sexta-feira (18). O homem, com prisão preventiva decretada pela Justiça pelo feminicídio, foi detido por agentes da Polícia Civil em Sapucaia do Sul, na Região Metropolitana. Mas para chegar ao paradeiro dele, foi necessário usar diversas estratégias. Quando foi detido, segundo a polícia, ele se preparava para escapar novamente.
O caso, que culminou com a prisão do suspeito, iniciou em 9 de janeiro deste ano, quando gritos foram ouvidos por vizinhos vindos de dentro da casa de Lourdes. Na época, a cabeleireira, que residia sozinha, já tinha medida protetiva contra o ex, de quem havia se separado em dezembro de 2021. Mesmo assim, segundo familiares, ele seguia rondando a moradia dela. No dia seguinte aos gritos, o veículo da vítima, um Corsa, preto, deixou a residência.
Na mesma segunda-feira, o desaparecimento de Lourdes foi percebido e comunicado à polícia. Dentro da casa, foram encontrados rastros de sangue, objetos quebrados e o espelho retrovisor do carro caído no chão. Desde então, a mulher não atendia mais as ligações e nem respondia mensagens. Na noite de 12 de janeiro, o corpo dela foi encontrado no porta-malas do próprio carro às margens da BR-101, no município de Içara, no sul de Santa Catarina – a cerca de 300 quilômetros de Estância Velha.
Conforme o delegado Rafael Sauthier, responsável pela apuração do caso, a vítima foi assassinada com 11 facadas – confirmado pela perícia. Desde que o crime foi descoberto a polícia tentava localizar o paradeiro do investigado. Os agentes apuraram que ao longo desse período, após escapar para Santa Catarina, o homem teria se mantido escondido no Paraná. Depois disso, teria regressado ao Rio Grande do Sul, onde acabou preso.
— Foi muito difícil localizá-lo. Estivemos todo esse tempo trabalhando, fazendo escutas, diligências, no encalço dele. Ele estava se preparando nesse momento para fugir novamente, para São Paulo, inclusive, encaminhando documentos falsos. Encontramos as fotos que seriam usadas para isso — afirma o delegado.
Além do fato de a vítima ter medida protetiva contra o ex, a polícia obteve outros elementos ao longo da apuração que apontam a autoria.
— Foram encontradas digitais dele no carro dela (por meio da perícia). Vizinhos em Estância Velha viram ele rondando a casa da vítima, na noite do dia 9 de janeiro. Na manhã seguinte, viram novamente ele saindo. E há imagens dele saindo com o carro dela, com a vítima já dentro do porta-malas. Temos imagem de um homem deixando o veículo em Içara — diz o policial.
Sobre a dinâmica do crime, conforme Sauthier, o homem teria assassinado a ex a facadas, e na manhã seguinte limpado a residência, antes de escapar para Santa Catarina, no veículo dela, com o corpo já no porta-malas. O feminicídio teria sido motivado pelo fato de que a mulher rompeu o relacionamento com o homem, após descobrir uma traição. Ela também já havia registrado ocorrência contra ele por estupro e ameaça – crimes pelos quais ele foi indiciado.
Áudios
Durante a apuração, a polícia obteve, por meio de escuta telefônica, áudios do investigado. Segundo o delegado, nessas conversas, o ex-namorado da vítima admite o crime, e diz que a mulher foi morta ainda no domingo à noite, dia 9.
— Quando completaram 30 dias da morte dela, a família fez uma publicação em rede social. Mas eles contaram a morte dela como no dia 10. E ele caçoava nos áudios, na escuta, que mal sabiam que não foi dia 10, do dia 9. Dava detalhes da morte — diz o delegado.
Nos mesmos áudios, ele teria afirmado que não pretendia se entregar à polícia. No momento da prisão, que aconteceu em residência de Sapucaia do Sul, segundo o delegado, o foragido ainda tentou escapar, mas foi contido. Nenhuma arma foi encontrada com ele e a faca usada no crime também não foi localizada. Encaminhado para a Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) de São Leopoldo, o preso preferiu permanecer em silêncio. Moura deverá responder pelo feminicídio e também por ocultação de cadáver.
“Piores dias das nossas vidas”, diz filha
Natural de Estância Velha, Lourdes vinha trabalhando na área de limpeza de uma escola infantil para reunir dinheiro para concretizar o sonho de ter seu salão de beleza. E também já oferecia atendimentos a domicílio como corte de cabelo e manicure, atividades para as quais realizou cursos profissionalizantes.
Filha da cabeleireira, Camila Melo dos Santos, 24, teve esperanças de que a mãe pudesse ser localizada com vida, após o sumiço. O último contato entre a jovem, que reside fora do Estado, e a mãe foi por telefone. A cabeleireira estava otimista e confiante com o futuro.
— Conversamos bastante. Até parece que foi uma despedida. Ela falou que me amava muito, que as coisas iam melhorar, que tudo ia dar certo. Que ela estava no caminho, que ia realizar o sonho dela. Desde o dia que a nossa mãe desapareceu foram os piores dias das nossas vidas, sem ter notícias e sem saber o paradeiro dos dois. Mas quando ela foi encontrada o sentimento foi o pior que podíamos sentir. Nunca imaginei sentir uma dor tão grande que até hoje só aumenta — desabafa a jovem.
Sobre a prisão do suspeito, a jovem diz que o fato traz certo alento para a família. Lourdes era mãe de três filhos – nenhum deles com o ex-namorado.
— Sabemos que nada vai trazer nossa mãe de volta, mas só o fato de ele ter sido preso, o nosso coração fica mais tranquilo. Uma pessoa assim não pode conviver em sociedade, pois consequentemente faria mais vítimas. Esperamos que a justiça seja feita ele pague por todos os crimes que já cometeu — afirma a jovem.
Contraponto
Após ser preso, o suspeito não quis falar à polícia sobre o caso. Até o momento, conforme a Polícia Civil, nenhum advogado se apresentou como responsável pela defesa do investigado. GZH também entrou em contato com a Defensoria Pública para saber se o preso está sendo atendido pelo órgão.
A reportagem também entrou em contato com o Tribunal de Justiça, que informou que a 1ª Vara Judicial, onde corre o processo, ainda não recebeu da polícia informações sobre o depoimento do preso e nem sobre quem é o responsável pela defesa. Anteriormente, a Justiça já havia informado que a cabeleireira não havia informado as autoridades sobre o descumprimento pelo ex-companheiro da medida protetiva, "razão pela qual não havia pedido de prisão preventiva contra ele".
Onde pedir ajuda
Brigada Militar
- Telefone - 190
- Horário - 24 horas
- Serviço - atende emergências envolvendo violência doméstica em todos os municípios. Para as vítimas que já possuem medida protetiva, há a Patrulha Maria da Penha da BM, que fiscaliza o cumprimento. Patrulheiros fazem visitas periódicas à mulher e mantêm contato por telefone
Polícia Civil
- Endereço - Delegacia da Mulher de Porto Alegre (Rua Professor Freitas e Castro, junto ao Palácio da Polícia), bairro Azenha. As ocorrências também podem ser registradas em outras delegacias. Há 23 DPs especializadas no Estado
- Telefone - (51) 3288-2173 ou 3288-2327 ou 3288-2172 ou 197 (emergências)
- Horário - 24 horas
- Serviço - registra ocorrências envolvendo violência contra mulheres, investiga os casos, pode solicitar a prisão do agressor, solicita medida protetiva para a vítima e encaminha para a rede de atendimento (abrigamentos, centros de referência, perícias, Defensoria Pública etc), entre outros serviços