O vídeo é de um horror indescritível. Durante três minutos, um jovem espanca um cãozinho, até sua morte. Ao fundo, podem ser ouvidas vozes, orientando o crime: “Agora mata!”.
A cena foi transmitida ao vivo pela internet por um adolescente de 17 anos, morador da pacata cidade de Lindolfo Collor, com 5,7 mil habitantes, no Vale do Sinos. O vídeo foi veiculado inicialmente num grupo fechado de internet, composto por extremistas de direita e até admiradores do nazismo, mas um dos frequentadores vazou as imagens. A Polícia Civil recebeu o material e solicitou a apreensão do autor do crime. Após, a delegada Raquel Peixoto, que investiga o caso, foi ameaçada de morte e achincalhada nas redes sociais.
Quem é o rapaz autor dos crimes? É um gesseiro e ajuda o pai, que é pedreiro. A família é sem posses e os pais, separados. Em depoimento aos policiais, ele admitiu o crime com frieza, diz a delegada. O adolescente falou que fez isso para cumprir um desafio imposto pelo grupo de internet, que exige sacrifícios a quem deseja se tornar um membro da chamada “Elite” (é assim que o grupo se denomina).
Ele falou que conheceu o grupo por meio de jogos de computador. Entre outras coisas, cortou os braços em automutilação, para ser aceito entre seus pares de jogos virtuais. Os pais perceberam os cortes, levaram ele numa psicóloga, mas o rapaz não disse que isso estava vinculado a jogos virtuais.
O jovem, no depoimento, falou que escolheu o cão ao acaso, para não ter de sacrificar algum dos três cachorros da sua família. O escolhido foi um basset (linguicinha) com 14 anos de idade, que passava na rua, segundo ele (a dona do cão, uma advogada, diz que o animal foi furtado).
GZH buscou familiares do adolescente. O pai e a mãe dele não quiseram falar, mas um irmão, de 23 anos, conversou um pouco com a reportagem. Veja os principais trechos:
"A gente não sabia do envolvimento dele com esse grupo"
"Nunca pensei que isso fosse acontecer com meu irmão. A gente não sabia do envolvimento dele com esse grupo. Ficamos sabendo depois do vídeo. Ele tava em tratamento o tempo todo (familiares relatam que o rapaz tem acompanhamento psiquiátrico desde pequeno). Esse grupo da internet copiou todos os dados dele, foto da mãe, e passaram a intimidar ele, para que fizesse o que queriam".
"No colégio, ele sofreu muito bullying"
"A gente teve uma infância meio difícil. A maioria das pessoas que comenta é “filhinho de papai”, riquinho, que não sabe o que é passar fome, o que é uma infância difícil. No colégio, ele sofreu muito bullying, pessoal perguntava se ele já tomou o Gardenal dele (remédio anti-convulsivo)".
"Todo mundo falando que vai fazer igual com nossa família"
"Sofremos muitas ameaças. Tivemos nossos dados divulgados na internet. Sei que a mídia não deu o nome dele, mas nos comentários e no Facebook todo mundo já sabe quem é ele. Tá todo mundo falando que vai fazer com o guri igual ao que ele fez com o cão, com nossa família. Essas pessoas ou não têm filho ou têm filho pequeno. Têm de entender que a gente nunca está o tempo todo com as crianças".