Próximo da véspera de Natal, na noite de 22 de dezembro, Aloísio Port, 45 anos, e o pai Abílio Port, 75, planejavam como seria a comemoração em família, enquanto voltavam para casa na área rural de Três Coroas. A cerca de dois quilômetros da propriedade onde viviam, na localidade de Canastra Baixa, depararam com um veículo no meio da estrada. Ao pararem para prestar ajuda, segundos depois, viveram por momentos de terror, que resultaram na morte do idoso. A Polícia Civil indiciou nesta quarta-feira (29) cinco pessoas presas pelo assassinato do produtor rural, entre elas um vizinho das vítimas.
Pai e filho voltavam para casa por volta das 22h, depois de passarem o dia vendendo verduras e outros produtos na cidade de Três Coroas. No trajeto, falavam sobre como seria o Natal. O idoso estava ansioso pela visita de uma neta que reside na Serra. Quando avistaram um carro parado com os faróis acesos, Aloísio, que conduzia a caminhonete, achou a situação suspeita.
— Acho que não, vamos devagar — respondeu Abílio.
— Não abre os vidros —disse o filho ao pai.
Assim que chegaram perto do outro carro, um homem se aproximou e pediu ajuda.
— Tem um macaco para emprestar? — indagou.
— Encosta para o lado, que lhe ajudou — disse Aloísio.
Antes que tivesse tempo de desembarcar, uma arma surgiu pela fresta do vidro, que estava entreaberto. No impulso, o motorista saltou, deu um tapa na arma e deu ré com a caminhonete.
— Eles começaram a atirar. Estava escuro. O carro apagou e eles vieram para o lado do pai. Começaram a atirar. O pai gritou: “Estamos mortos”. E não gritou mais nada. Gritava com ele, mas não respondeu mais nada — recorda o filho.
O idoso havia sido baleado no abdômen, e o filho foi atingido na mão direita. Para escapar dos criminosos, ele deu partida novamente e arremessou a caminhonete contra o veículo deles. Aloísio seguiu dirigindo em direção à propriedade de Lindomar Port, 44 anos. Era o local mais perto onde poderia pedir ajuda. Somente no dia seguinte descobriria que o vizinho estava entre os suspeitos de envolvimento no crime.
— Fui pedir socorro ao mandante. Não desconfiava de nada. Era o vizinho mais próximo. Gritei para ele: “Vem me ajudar”. Fiquei na entrada, onde pegava celular. Consegui ligar para meu cunhado, que chamou a polícia — descreve Aloísio.
Não houve tempo para que o pai dele fosse socorrido. No dia seguinte, Lindomar chegou a ir ao velório do idoso. A família só soube depois, por meio da polícia, que havia suspeita de participação dele no latrocínio (roubo com morte). Aloísio acredita que a intenção com o crime era matá-los para roubar a caminhonete.
— Acho que queriam matar os dois mesmos. Vieram atirando. Tanto que levei um tiro na mão. Foram muitos tiros. Oito na frente, mais os que entraram pelo lado do carona. Se tu não tens intenção de matar, não vem atirando — diz o produtor.
Há cerca de dois meses, Aloísio havia comprado uma área de terra de Lindomar. A família e o vizinho possuem parentesco distante, mas, como residiam próximos, costumavam conviver rotineiramente. O idoso chegou a ajudar alguns familiares do vizinho, fornecendo leite.
— Nunca desconfiaria de alguém tão próximo. Não tinha nada de atrito, de inimizade. Não teve briga, nem nada — afirma.
Além do filho, Abílio, que era viúvo há três anos, deixa a mãe, de 97 anos. O corpo do idoso foi sepultado no Cemitério Católico de Três Coroas.
— Meu pai estava feliz que minha sobrinha (filha de uma irmã já falecida) ia vir e passar uma semana no sítio. Estava contente que ia ficar próximo. É muito triste perder alguém assim, brutalmente. Por maldade — diz o filho.
Investigação
Uma semana após a morte de Abílio Port, cinco pessoas serão indiciadas pela Polícia Civil. O inquérito será encaminhado à Justiça nesta quarta-feira (29). A apuração concluiu que os criminosos pretendiam cometer um assalto, mas acabaram matando o produtor rural.
Os cinco indiciados pelo crime de latrocínio e organização criminosa foram presos durante a investigação e seguem detidos. Além de Lindomar, vizinho das vítimas, foi detido ainda o filho dele, Wesley Port, 20 anos, e mais três suspeitos.
Contraponto
GZH entrou em contato com o advogado Cristiano Huff, responsável pela defesa de Lindomar e Wesley Port, que informou que não pretende se manifestar à imprensa sobre o caso no momento.