A Polícia Civil ouviu 88 pessoas para trilhar os últimos momentos da caingangue Daiane Griá Sales, morta nas proximidades da reserva da Guarita, em Redentora. Pelo menos oito homens, brancos e índios, foram vistos próximos à adolescente, na derradeira noite de sua vida. Dois dentre eles, não-indígenas, acabaram presos temporariamente, pelas contradições nos depoimentos e por terem sido vistos por último com ela. Um deles virou réu pelo assassinato e estupro da garota, o outro foi libertado.
A trilha percorrida pelos policiais é como a do CSI norte-americano, a investigação científica. Não bastam testemunhos. É preciso seguir rastros do suor, do sangue, das digitais. E isso foi feito, com ajuda decisiva de peritos.
A Polícia não revelou o nome do preso, mas, em consulta ao processo — que já não está em segredo de Justiça — GZH apurou que se trata de Dieison Zandavalli, 33 anos e morador de Redentora. Cabelos claros, origem italiana, é oriundo de uma família de produtores rurais de médio porte, conhecida na região.
Várias testemunhas disseram que Dieison ofereceu carona a Daiane, como já tinha feito na mesma noite com outras garotas indígenas. Só que Daiane aceitou, por volta das 3 horas da madrugada do dia 1º. Os depoimentos coletados pelo delegado Vilmar Schaeffer e as perícias coincidem quanto ao fato de a adolescente caingangue ter ingerido muita bebida alcoólica, o que a deixou bastante vulnerável.
Dieison e outro jovem, também visto com ela, se tornaram suspeitos e tiveram a prisão decretada pela Justiça. Acontece que as marcas de roda encontradas no local da desova do corpo coincidiam com as do Fiesta preto usado por Dieison, pertencente aos pais dele. Foram também rastreados elementos genéticos do rapaz no cadáver da vítima (saliva na região peitoral) e outros vestígios que apontam que ele teria tido relações sexuais com a caingangue. O sexo não teria sido consentido, a se supor pelas lesões na mandíbula, provocadas provavelmente por soco.
Conforme a denúncia do promotor de Justiça Miguel Prodanosche, embasada em perícia, “a fim de evitar qualquer reação, o indiciado se agarrou a Daiane com força, ocasionando-lhe, assim, as lesões – equimoses (manchas sanguíneas) no maxilar, no malar, nos seios e próximo às axilas”.
Testemunhos apontam que Dieison falava em manter relações com uma índia naquela noite. Ele nega. Enquanto esteve preso, o suspeito deu várias versões, incluindo a de que tinha deixado sua mulher e o bebê dela em casa de familiares, no dia do crime. Só que ela, em depoimento, falou que fazia três dias que não via o companheiro. Testemunhas que corroborariam o álibi Dieison, na tentativa de se desvincular do homicídio, negaram os fatos narrados por ele. Tudo isso determinou a prisão preventiva do homem e a soltura do outro suspeito, contra o qual não pesaram indícios técnicos.
Dieison, que saiu das proximidades da área indígena para morar no Vale do Sinos, retornou há dois anos. Nunca cumpriu pena, mas já foi investigado por uso de drogas e suspeita de envolvimento em furtos. Estava no radar dos policiais. Agora aguarda seu destino no Presídio Regional de Três Passos, sob vigilância para que não sofra represália de outros presos, muitos deles indígenas – como Daiane.
CONTRAPONTO
O que diz a defesa do réu:
O advogado que o defendeu Dieison Zandavalli na fase de instrução policial largou o caso. Ele agora é defendido pela Defensoria Pública. Andrey Mello, do Núcleo de Defesa Criminal da Defensoria, diz que o defensor de Dieison está em férias e assegura: "a defesa pública apresentará as provas no curso do processo e garantirá a ampla defesa e os demais direitos e garantias processuais ao acusado"