A tensão e o pânico de passar um mês e 10 dias sob a mira de armas, ameaças psicológicas e em constante fuga em uma mata terminaram para o agricultor gaúcho Luis Carlos Tamiozzo, 61 anos, no Paraguai. Na quinta-feira (23), ele conseguiu escapar dos seus sequestradores e foi resgatado pela polícia no departamento de Caazapá, a 170 quilômetros da fronteira com o Brasil.
O sequestro do agricultor, que deixou a região de Augusto Pestana, no noroeste do Estado, há 30 anos para viver na pequena cidade paraguaia de Doctor Raul Peña, rende enredo de filme e envolveu a polícia da região, a Polícia Nacional e, segundo a família, até o presidente do Paraguai.
Tudo começou em 13 de junho. Era um sábado e o agricultor deixou a casa da família, na área urbana, para ir até a chácara, a aproximadamente 15 quilômetros da cidade. Segundo Tamiozzo relatou a familiares, assim que chegou, encontrou o caseiro da residência amarrado e três criminosos armados o surpreenderam.
Os bandidos teriam solicitado US$ 50 mil para que ele não fosse sequestrado, mas a vítima não dispunha desse valor. Então, ele foi colocado em sua caminhonete e levado para uma propriedade rural, em um local que não soube precisar.
A filha do agricultor, a estudante de engenharia civil Karine Tamiozzo, detalhou a GaúchaZH que nos dois primeiros dias a família recebeu telefonemas pedindo resgate. Como não conseguiu o valor, o sequestro seguiu.
De acordo com Karine, os bandidos, no início, pediam os valores por mensagem de texto, o que dificultava a localização do sinal pela polícia. Isso seguiu até o dia 16, quando os sequestradores avançaram e mandaram fotos e vídeos.
A partir disso, os agentes da Polícia Nacional descobriram uma casa onde os bandidos carregavam celulares e passavam parte do tempo. Um deles foi preso após uma troca de tiros, segundo o Ministério Público paraguaio. Outros dois seguiram em fuga no mato com a vítima.
— Um deles, que foi preso sábado (18), falou que chegou aos ouvidos deles que a polícia não estava mais na região. A partir desse dia, quando souberam, um ficava com meu pai e outros saíam para procurar comida. Mas a polícia (estava) sempre com roupa normal, disfarçada pela cidade, para que eles pensassem que tivesse deixado o caso — detalhou a estudante.
Ainda segundo Karine, o pai explicou que, após o comparsa ser preso, os demais ficaram atordoados e passaram os dias em fuga constante pelo mato. A polícia estava perto dali, e usava até um helicóptero. Em um momento de distração, quando a dupla tentou ir pegar comida, Tamiozzo conseguiu fugir.
Ligação de ministro e polícia em casa
Em entrevista a repórteres após ser resgatado, o agricultor narrou que comia o que os criminosos conseguiam comprar de residências próximas da mata. Quando ninguém os ajudava, alimentavam-se de milho cru.
— Não era todo dia em que tinha lugar para eles comprar algo. Nós comíamos fruta dos montes, laranja, o que dava. Um deles ia buscar mortadela, enlatados, essas coisas — narrou.
Segundo ele, durante a noite os sequestradores caminhavam com ele em meio à mata e, durante o dia, paravam para descansar.
A filha elogiou o trabalho da Polícia Nacional. Conforme ela, desde o dia do sequestro, um agente passou a ficar 24 horas na casa da família. Além disso, ela contou, recebia frequentes ligações do ministro do Interior.
— Em todo o momento, o apoio que nos deram foi ótimo, estavam o dia inteiro disponíveis. Foi muito bom. A polícia disse que tinha ordem direta do presidente, repassada pelo ministro — comentou Karine.
Já em segurança, o agricultor reencontrou sua família ainda na quinta. A filha afirma que ele está magro e abalado psicologicamente, mas sem ferimentos graves. O governo determinou que um psicólogo o acompanhe.
Tamiozzo revelou que foi frequentemente ameaçado com armas e psicologicamente. Na mesma entrevista à imprensa local, contou que os sequestradores diziam que pegariam sua família.
Ministério Público sabe quem são os bandidos
Em nota, o Ministério Público paraguaio informou que os criminosos são Cesar Ramon Acosta (preso), Reinaldo Noldin Cáceres e José Arturo Acosta Espínola.
Os promotores acreditam que os sequestradores ficaram com a logística reduzida em razão da presença policial e da prisão de um dos membros do bando.
No Paraguai, produtores rurais brasileiros já foram sequestras pelo grupo terrorista Exército do Povo Paraguaio. Neste caso, no entanto, as autoridades acreditam que sejam criminosos iniciantes.