O isolamento pela pandemia da COVID-19 fez aumentar o contrabando na fronteira paraguaia com Brasil e Argentina, e o combate à ilegalidade na região custou a vida de um militar no último fim de semana no Paraguai.
"Estamos tendo um surto social de consequências imprevisíveis", declarou a jornalistas o senador Arnaldo Franco, do partido Colorado, nesta terça-feira (21).
O presidente do Congresso paraguaio, Oscar Salomón, pediu a implementação de medidas urgentes para que as cidades fronteiriças operem comercialmente com normalidade.
"As medidas precisam entrar em vigor o quanto antes. Temos que reativar o comércio", declarou Salomón, após participar de uma cúpula dos chefes dos poderes do Estado no Palácio do Governo.
Salomón estimou em 20.000 o número de comércios afetados somente em Ciudad del Este, localizada 330 km ao leste de Assunção, na tríplice fronteira com Foz do Iguaçu, no Paraná, e Puerto Iguazu, na Argentina.
Manifestações de associações de comerciantes, vendedores ambulantes e taxistas, entre outros, vêm se multiplicando na ponte da Amizade que une Ciudad del Este com Foz do Iguaçu.
Um confronto a tiros com contrabandistas na última sexta-feira resultou na morte de um militar, baleado na cabeça.
A busca pelos criminosos em um bairro pobre de Ciudad del Este, conhecido como Villa Kuwait, resultou na prisão de 35 pessoas. Vários deles denunciaram torturas e maus-tratos por parte das autoridades, o que resultou na troca do comandante do batalhão local, na segunda-feira.
Através da Villa Kuwait, e de outras dezenas de portos clandestinos, são contrabandeados produtos eletrônicos, cigarros e até drogas e armas, de acordo com a polícia local.
A suspensão do comércio obrigou o governo paraguaio a negociar com o Brasil a venda de mercadorias sob um sistema de "delivery", modalidade que entrou em vigor nesta terça-feira na cidade de Pedro Juan Caballero, 550 km ao nordeste da fronteira seco com Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul.
Ao problema com o comércio soma-se a quantidade inusitada de repatriados que esperam entrar no Paraguai oriundos dos países vizinhos, impedidos por protocolos de prevenção contra o coronavírus.
"O governo analisa a entrada de pessoas de maneira seletiva e injusta", criticou à AFP o líder opositor do partido Liberal paraguaio, Efrain Alegre.
"A fronteira não pode ficar fechada para nenhum paraguaio", continuou Alegre, adversário do presidente Mario Abdo nas eleições de 2018.
"Não vou responder ao insultos de ninguém (...) não é momento de discursos eleitorais quando a nação precisa estar unida", devolveu Abdo.
* AFP