No início da madrugada de 11 de junho, de sua casa em Soledade, no norte do Rio Grande do Sul, Paulo Ferreira Portes, 53 anos, telefonou repetidas vezes para a filha, mas o celular dela não chamava. Paula Schaiane Perin Portes, 18 anos, havia saído horas antes na companhia de amigos. Com eles, disse que jantaria e jogaria cartas. Depois, retornaria para a residência onde estava vivendo com o pai há pouco mais de um mês. A angústia vivida naquela noite sobre o paradeiro da caçula se estenderia pelos dias seguintes — até o momento sem resposta. O desaparecimento da jovem segue sendo investigado pela Polícia Civil. Três suspeitos foram presos e um foragido está sendo procurado.
Paula é a mais jovem das três filhas de Paulo e a única que morava com ele. O servente, que atualmente está desempregado, separou-se da mãe dela, Marisete Perin, 49 anos, quando a menina tinha pouco mais de um ano. Mas pai e filha seguiram convivendo normalmente em Fontoura Xavier, onde ela cresceu. Até recentemente, a jovem morava com a mãe e o padrasto. Há cerca de oito meses, Paulo se mudou para Soledade, em busca de trabalho. Ao completar 18 anos, em 7 de maio, a filha decidiu morar com ele.
— Arrumei um quartinho para ela. As coisas dela estão todas ali. Ela sempre foi muito apegada comigo, desde pequena, tanto que decidiu vir morar aqui. Mesmo tendo mais conforto lá em Fontoura, quis vir para cá ficar junto comigo — conta o pai.
Sem notícias da filha, assim como a mãe da jovem, Paulo diz que vive uma angústia interminável. Com os passar dos dias, o pai teme não rever mais Paula com vida.
— É muito difícil. A gente não come direito, não dorme. Esperando, o tempo todo esperando. A chance de ela estar viva é mínima. Mas a gente não perde a esperança — desabafa.
Sempre que saía, ela costumava dizer ao pai onde ia e com quem. Naquela noite, não foi diferente. Avisou que iria de carona até o apartamento de um amigo para jogar cartas e jantar. Era normal o pai telefonar e a jovem atender, para tranquilizá-lo. Quando Paula saiu em 10 de junho, Paulo ficou assistindo à televisão. Por volta da 1h30min, ele estranhou o fato de que ela não havia retornado e começou a tentar contato:
— Liguei várias vezes. Nem chamava o telefone dela. Ela sempre me atendia e dizia: "pai, estou aqui, estou bem". Fiquei esperando. Pensei que ela pudesse ter ficado sem bateria. Mas fui no quarto dela e vi que ela tinha levado o carregador (do celular). Ela nunca levava. Me dei conta que sem bateria não devia estar, não consegui dormir direito, preocupado. Levantei de manhã, e ela não tinha voltado.
Uma das amigas de Paula foi até a casa do pai da jovem e perguntou por ela. Paulo disse que ela não havia retornado e soube que a filha tinha ido até a casa de um rapaz de 22 anos, no bairro Fontes. Atualmente, o suspeito está foragido, após ter prisão decretada durante a investigação do desaparecimento. O pai conta que procurou a delegacia no início daquela tarde e registrou o caso. Buscas chegaram a ser realizadas em áreas de mato, mas nada foi encontrado.
— É muito triste. A gente nunca pensa que isso vai acontecer. Vê na televisão, acontecendo com os outros. Mas pensa que nunca vai passar por isso. Só quero encontrar ela. Onde quer que esteja. Só peço que, se alguém viu algo ou sabe de alguma coisa, que ligue para a polícia. Só quero saber porque sumiram com a minha filha. Ela recém fez 18 anos, com toda a vida pela frente. Minha vida não tem mais sentido nenhum — lamenta.
Investigação
Nesta terça-feira (23), o advogado Alisson da Silva Doneda, de Passo Fundo, passou a representar o pai da jovem no caso. Ele esteve na Delegacia de Polícia de Soledade, onde conversou com o delegado Márcio Marodin, responsável por conduzir a investigação. A Polícia Civil tem optado por manter em sigilo parte das apurações. Nesta segunda-feira (22), por nota, a policia informou que mais dois suspeitos foram presos e que as buscas seguem. Ao advogado, a polícia detalhou parte das ações que vem sendo realizadas. Uma das mais recentes foram buscas em um sítio em Pouso Novo, no Vale do Taquari, onde havia suspeita que o foragido pudesse estar escondido.
— O delgado está mantendo em sigilo o inquérito, o que entendemos que é compreensível para não prejudicar a investigação. A polícia já fez várias diligências, inclusive com cães, mas infelizmente não conseguiu localizar nada. Meu papel no momento é de dar apoio e informar o seu Paulo sobre o inquérito, para tentar tranquilizá-lo um pouco. Todos estamos em busca de um desfecho. Não cabe a nós nesse momento adentrar no trabalho da polícia — afirma.
O advogado reforça o pedido para que as pessoas que tenham informações relevantes sobre o caso entrem em contato com a Polícia Civil. Foi disponibilizado o telefone 054-3381-9250, assim como o Disque Denúncia, que atende no 181.
— Muitas pessoas têm medo de se identificar, mas não é preciso para fazer a denúncia. Só temos que ter cuidado porque em casos rumorosos, como este, é normal que muitas informações sejam recebidas, o que dificultar a investigação, tirando o foco das diligências. O que pedimos é que quando alguém tiver algum fato, é muito importante que relate, mas procure antes ver se realmente é algo que pode contribuir com o caso, para não acabar tumultuando o processo da polícia — alerta.
O caso
Paula estava na companhia de amigos em um apartamento em Soledade, jogando cartas, quando pediu que eles a levassem até a casa de um jovem, de 22 anos. Depois de ser deixado no local, não foi mais encontrada. Na semana passada, a polícia obteve imagens de câmeras que mostram ela sendo carregada, aparentemente inconsciente, de dentro da casa onde estava o rapaz para o interior de um veículo. Três suspeitos foram presos até o momento.
O jovem, com quem Paula havia combinado de se encontrar, também teve prisão decretada e está foragido. A polícia suspeita de homicídio e ocultação de cadáver. Os nomes dos suspeitos não foram divulgados. Segundo o delegado Joerberth Nunes, diretor do Departamento de Polícia do Interior (DPI), o caso segue sendo apurado e as buscas seguem, sem novidades na investigação no momento.