A apreensão de cocaína e crack no Rio Grande do Sul pela Polícia Federal mais do que dobrou nos primeiros seis meses de 2020, comparado a igual período do ano anterior. Foram 1,170 tonelada até 6 de junho, ante 459,17kg em 2019, crescimento de 155%. Também aumentou o recolhimento de maconha, skunk e haxixe, com acréscimo de 2,1 para 2,8 toneladas apreendidas pela PF em território gaúcho. As quantias também abrangem narcóticos pegos em ações de repressão da Brigada Militar, Comando Rodoviário da BM, Polícia Rodoviária Federal (PRF) e Receita Federal.
Em uma ação simbólica da Semana Nacional de Políticas sobre Drogas, promovida pela Polícia Federal entre 22 e 26 de junho, foram incinerados na manhã desta quinta-feira (25) 4,5 toneladas de entorpecentes, incluindo cocaína, pasta base, maconha, skunk, êxtase e lança perfume, em uma empresa de Guaíba, na Região Metropolitana, e em Passo Fundo, no Norte. Esta é a segunda vez do ano que a PF destrói drogas apreendidas. No total, em 2020, já foram nove toneladas carbonizadas – ação de depende de autorização judicial e pode conter quantias apreendidas em anos anteriores.
O aumento da apreensão de drogas está relacionado a diversas razões, inclusive com o aumento de consumo durante a pandemia de coronavírus. O delegado regional de Investigação e Combate ao Crime Organizado Alessandro Maciel Lopes sugere que esta pode ser uma das causas, além do avanço da repressão das ações policiais e também a retirada de circulação de entorpecentes de diferentes facções:
— Não podemos descartar a própria situação da covid-19, acredito que tenha aumentado o consumo de drogas, especialmente de quem usa em casa, no caso da maconha e da cocaína, e reduzido o consumo nas festas. Assim como é notório o aumento de consumo de bebida alcoólica. Mas é difícil, e temerário, dizer que foi só por causa disso.
Embora a circulação de pessoas tenha reduzido significativamente devido ao distanciamento social, Lopes salienta que a pandemia não reduziu a atividade das organizações criminosas.
— Seguiu igualmente como em outros períodos. O escoamento desse tipo de crime, o tráfico de drogas depende do transporte físico para locais a serem comercializados. A gente percebe essas ações, as rotas, elas são líquidas. No momento em que acham um local melhor para escoar, elas mudam e vão por ali. São muito dinâmicas no que diz respeito à distribuição. Assim que se fecha um canal de acesso, rapidamente procuram outro — explica o delegado.
Lavagem de dinheiro
Lopes ressalta, porém, que não basta apreender a droga. É importante identificar toda a organização e chegar nos líderes por meio de investigação, para aplicação da lei penal em cada um dos integrantes. Trabalho que também passa pelo mapeamento da lavagem de dinheiro e consequente descapitalização do grupo. Ações que dependem de cooperação policial e jurídica com países vizinhos como Paraguai, Uruguai e Argentina:
— Os líderes nunca vão estar transportando as drogas. Muitas células estão no Exterior. Grande parte da droga apreendida no RS vem de fora.
Grande parte das operações de 2020 foi feita na Região Metropolitana, que concentra maior densidade populacional e, com isso, maior consumo e comércio. E é durante o transporte da droga que normalmente aconteceram os flagrantes. A BR-386, que corta o Estado entre a Região Metropolitana e ao Norte, está entre as vias preferenciais para esta logística.
— Ainda assim, as rotas são sazonais. Existe uma rápida distribuição, ninguém fica com droga estocada. Às vezes, a droga está em locais ocultos dos veículos mas há casos que nem está escondida, vem em cima do caminhão. Ter parte da droga apreendida faz parte do risco de negócio e o traficante, que vende no atacado, já trabalha com isso na sua margem de lucro. Sabe que algumas cargas vai perder.
Por isso, o delegado ressalta que, apesar da importância de evitar que a droga chegue ao destinatário final, o prejuízo financeiro de uma apreensão não é suficiente para sufocar uma organização criminosa:
— Aí está a importância da investigação policial.
Semana Nacional de Políticas sobre Drogas:
De 22 a 26 de junho, a Polícia Federal promove em todo o Brasil a Semana Nacional de Políticas sobre Drogas. O objetivo é reforçar as diretrizes de prevenção ao uso indevido de entorpecentes, o combate ao tráfico e ao crime organizado, e promover ações que fomentem a circulação de informações sobre o tema.