A Brigada Militar (BM) mantém nesta terça-feira (10), pelo segundo dia consecutivo, o reforço do efetivo na Restinga, na zona sul de Porto Alegre. O objetivo é garantir o funcionamento de serviços essenciais e evitar novos confrontos entre facções rivais na Vila Bita.
Nessa região, durante ataque no último domingo, três pessoas foram mortas a tiros, duas mulheres e um adolescente, e uma outra, de 16 anos, está gravemente ferida em hospital. Desde janeiro, a polícia investiga oito assassinatos no bairro.
Segundo a BM, foi mantido desde segunda-feira um efetivo dos batalhões de choque e de aviação para dar apoio aos policiais do 21º Batalhão da Restinga. Por questões de segurança, números não estão sendo divulgados.
Os serviços essenciais são mantidos e vistoriados como, por exemplo, escolas, unidades de saúde, Foro, entre outros. Os PMs também percorrem trechos em que há comércio e locais onde há pontos de tráfico.
Nos últimos dois dias, a polícia prende quatro suspeitos e apreendeu um carro clonado e uma pistola 9 milímetros. Por enquanto, o reforço será por tempo indeterminado.
Triplo homicídio
O triplo homicídio ocorrido no domingo passado está sendo investigado pelo delegado Rodrigo Garcia, titular da 4ª Delegacia de Homicídios. Ele diz que alguns dos quatro presos pela BM, suspeitos de integrar uma facção, aparecem em um vídeo gravado na semana passada e divulgado nas redes sociais entre sexta-feira e sábado.
Nas imagens, vários integrantes de um grupo criminoso, que tem base na zona leste da Capital, fazem ameaças e percorrem a região da Restinga onde há disputa por ponto de drogas. Eles destacavam que estavam ocupando o local.
Para Garcia, esse vídeo pode ter sido o estopim para o ataque que deixou três mortos.
— É o que apuramos até o momento. As imagens divulgadas foram um estopim para os crimes, mas a motivação iniciou desde o ano passado e envolve pelo menos um detento do sistema prisional gaúcho — destaca Garcia.
As duas mulheres, de 21 e 41 anos, além do adolescente de 14 anos, estavam dentro de uma casa que ocupavam há alguns dias para vender entorpecentes. Antes, eles residiam em dois condomínios da região que são áreas da facção que estava ocupando a Vila Bita. Garcia ressalta que foram encontradas embalagens, entorpecentes e dinheiro na residência. Os traficantes rivais gravaram imagens da cena para divulgar em redes sociais como uma forma de retaliação.
Motivação
Um preso da Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc) estaria por trás dos fatos. Garcia diz que ele é apontado como líder do ponto de venda de drogas na Vila Bita, mas teve uma desavença em 2019 com a facção que integrava – um grupo com base no Vale do Sinos.
A partir disso, pediu apoio para uma organização criminal rival para retomar a região onde vendia entorpecentes. Em janeiro deste ano, porém, esse suspeito voltou a perder apoio da organização porque a polícia soube que as ordens de tráfico e homicídios eram dadas de dentro da Pasc. Houve revista nas celas e vários celulares foram apreendidos, o que irritou os responsáveis pela facção.
Garcia diz que, desesperado, o preso teria sido expulso e passou a integrar, no dia 28 de fevereiro, um terceiro grupo criminal — que tem base na zona leste da cidade.
— Ainda não temos suspeitos das mortes identificados, mas confirmamos que alguns dos quatro presos pela BM aparecem em vídeo gravado por eles mesmo com o objetivo de anunciar que a facção estava ocupando a Vila Bita. Ou foi retaliação do primeiro grupo que o investigado integrou, com a ideia de manter o ponto de tráfico, ou foi ataque do segundo grupo, depois que ele pediu apoio para tentar integrar a região como mais um de seus redutos criminais — explica Garcia.
A Polícia Civil não está divulgando o nome do apenado suspeito de ser líder do tráfico da Vila Bita enquanto a investigação não for encerrada. Desde janeiro deste ano, já contabilizou oito assassinatos nesta região da Restinga e que tiveram como motivação a disputa pelo ponto de venda de entorpecentes.