Com grafite nos vidros, o colorido de dezenas de carros perdeu destaque para o preto das camisetas e das faixas de luto na manhã desta terça-feira (28), no bairro Hípica, zona sul de Porto Alegre. Emocionados, amigos das três pessoas da mesma família mortas após uma discussão de trânsito, no último domingo (26), organizaram uma carreata que misturou protesto e homenagem.
O ponto de partida foi a estética automotiva Garage 184, na Avenida Juca Batista, que pertencia a uma das vítimas, o jovem Gabriel da Silveira Innocente Silva, 20 anos.
— Isso era a paixão dele. Os carros, o som, era o que deixava ele feliz. Não vamos deixar esse crime ser esquecido — disse o motorista Eduardo Freitas, 26 anos, compadre de Gabriel.
O pequeno acidente de trânsito no bairro Lami, que amassou a porta do carro do homem apontado como autor dos disparos, causou ainda a morte dos pais de Gabriel: Rafael Zanetti Silva, 45 anos, e de Fabiana da Silveira Innocente Silva, 44.
A mobilização em frente à loja começou pouco antes das 7h. Em um dos momentos mais emocionantes, os amigos fizeram uma oração, seguida por aplausos e discursos pedindo pela prisão do assassino, que segue foragido. O banner da fachada do Garage 184 teve as amarras cortadas por um alicate, marcando o ato final da despedida.
— Não tem o que falar. Ainda tem muito cliente procurando ele. Era um guri fora de série. Não tem o que falar — repetia Wagner Heitor Vinhas Deivid, 24 anos, colega de trabalho de Gabriel.
Cliente e amigo, Antônio Carlos Campedelli, 51 anos, citou a falta de compreensão por parte do autor dos disparos:
— É uma estupidez o que acontece no trânsito. Um guri trabalhador, que só queria viver a vida dele. Tá aí o que ele conseguiu deixar, um monte de amigo reunidos na homenagem.
Por volta das 7h45min, os cerca de 50 automóveis saíram pela Avenida Juca Batista, em direção à Terceira Perimetral. Com buzinaços e ronco alto dos motores, o destino era o cemitério Jardim da Paz, no bairro Lomba do Pinheiro, onde a família será sepultada.
Acompanhado pela EPTC, o cortejo levou pouco mais de uma hora até o local da despedida, deixando o trânsito lento por todo o caminho percorrido: as avenidas Eduardo Prado, Cavalhada, Nonoai, Teresópolis, Aparício Borges, Bento Gonçalves e João de Oliveira Remião. Durante a carreata, momentos de silêncio eram interrompidos por buzinas e aceleradas repentinas.
Curiosos, alguns pedestres pararam para observar os veículos. Na entrada do cemitério, uma longa fila foi formada pelos manifestantes.
— Essa carreata é o mínimo que a gente podia fazer por ele — afirmou o mecânico Nicolas de Oliveira, 20 anos, no local do sepultamento.