Uma testemunha de defesa do padre José Amaro Lopes de Sousa foi assassinada na noite da última quarta-feira (4) perto de Anapu, a 749 quilômetros a sudoeste de Belém, no Pará. Esta é uma das regiões que registram conflitos agrários mais violentas do país.
O mototaxista Marcio Rodrigues dos Reis, 33, foi morto com uma facada no pescoço por um passageiro que o havia contratado para levá-lo à zona rural. É a 15ª morte vinculada a conflitos de terra desde 2005, ano em que a irmã Dorothy Stang foi assassinada, segundo levantamento da Comissão Pastoral da Terra (CPT).
Herdeiro do trabalho da irmã Dorothy junto a assentados e sem-terra, o padre Amaro ficou preso por três meses após ser acusado por fazendeiros de vários crimes, incluindo extorsão. Ele foi solto graças a um habeas corpus dado por unanimidade pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Fazendeiros pressionaram mototaxista a depor
De acordo com a CPT, Reis participou, em 2016 em 2017, de um acampamento de sem-terra que reivindicava a fazenda Santa Maria, perto de Anapu. Fazendeiros da região pressionaram o mototaxista a prestar depoimento para acusar Amaro de ter organizado a tomada da fazenda, mas ele se negou.
Depois disso, afirma a comissão, Reis foi preso de forma preventiva sob a acusação de esbulho (apropriação ilegal) e porte de arma. Ele passou cerca de nove meses na penitenciária de Altamira, no Pará. Em abril do ano passado, o mototaxista foi novamente preso, desta vez por seis meses, com a segunda acusação por porte de arma.
Solto, ele deixou Anapu por um ano devido a ameaças de morte. Voltou há alguns meses, após ter avaliado que não sofria mais riscos. Marcio Reis era casado e deixa quatro filhas.
De acordo com a CPT, dos 15 assassinatos cometidos desde 2005, apenas um deles teve mandante identificado e preso. Procurada, a Polícia Civil do Pará informou que o caso é investigado pela delegacia de Pacajá, cidade vizinha a Anapu, e que nenhum suspeito foi preso até a tarde desta sexta-feira (6).