Antes de morrer em confronto com criminosos no Vale do Taquari, a soldado Marciele Alves, 28 anos, vivia a realização de um sonho ao ingressar no Pelotão de Operações Especiais. Enteada de um sargento, desde criança queria seguir os passos dele e chegar à elite da corporação.
— Desde pequena, quando eu chegava das operações ela me esperava. Me recebia e queria que eu colocasse a roupa tática, principalmente quando fui para as operações especiais —contou Gilson Alceu Kappel, que criou Marciele desde os quatro anos e quem ela considerava seu pai.
Ao crescer, o sonho permaneceu inalterado e ela conciliou a Brigada Militar com a faculdade de Fisioterapia — essa por influência da mãe que é enfermeira. Em 2012, anunciou aos pais que estava ingressando na corporação, o que emocionou a todos.
— Ela me disse: Passei no concurso que nem tu, pai". Eu me emocionei e fiz de tudo para ajudar ela a seguir o bom caminho. Saber o que é certo e errado. Tomar a decisão de tiro. A vida das pessoas passa na mão de quem tem uma arma — relembrou o sargento aposentado.
Anos depois, uma alegria para a família: apesar de ser um grupo restrito, Marciele conseguiu ingressar no Pelotão de Operações Especiais e usar a sonhada boina preta, com a qual está sendo velada nesta terça-feira (26), no cemitério municipal de Cachoeira do Sul, onde nasceu.
— Na operações especiais não é qualquer um que entra. É um grupo fechado, é uma família. Para uma mulher entrar, então mais (difícil) ainda. Hoje, a mulher quebra paradigmas na Brigada. Minha filha era uma ótima profissional e morreu em combate fazendo o trabalho dela — conta.
A alegria com as conquistas da filha, no entanto, contrastaram com a tristeza de sepultar a jovem morta tragicamente aos 28 anos. No velório, que iniciou às 9h30min, em Cachoeira do Sul, amigos, familiares e colegas de farda se revezam para prestar as últimas homenagens e confortar a família.
— Quem veste o manto sagrado da Brigada sabe o que é sair de casa e não saber se vai voltar. Ela saiu, deu tchau e eu esperei ela voltar — contou Kappel.
— O que me conforta é que ela morreu honrando seu juramento — completou.
Com sepultamento previsto para as 17h, uma série de homenagens deve ocorrer ainda durante a tarde. Pelo menos dois ônibus estão sendo oferecidos pela Brigada Militar aos PMs que desejam ir a Cachoeira do Sul. Às 16h, sirenes de viaturas serão ligadas por um minuto em todos os quarteis do Rio Grande do Sul e também em outros Estados, onde Kappel possuía amigos de cursos militares.