Um confronto entre dois grupos de índios caingangues resultou em um morto e três feridos na tarde desta quinta-feira (7) no município de Redentora, noroeste do Rio Grande do Sul. O tiroteio aconteceu na Reserva Indígena do Guarita, no distrito de São João do Irapuá.
De acordo com a Brigada Militar, o morto e os feridos são ligados ao grupo que apoia o cacique caingangue Carlinhos Alfaiate. Ele é desafiado, há meses, pelo vice-cacique Vanderlei Ribeiro, o Vandinho. A disputa pelo poder na reserva já resultou em sete outros incidentes em outubro, entre disparos de armas de fogo e incêndios em residências, como constatou a reportagem de GaúchaZH ao percorrer aquela região, situada próximo à fronteira com a Argentina.
Um dos incidentes tinha como alvo o próprio cacique Alfaiate. Um grupo de caingangues armados tentou assassiná-lo e disparou mais de 20 tiros de pistola e fuzil contra o líder da tribo, que escapou correndo para o meio da mata da reserva. Na impossibilidade de alcançá-lo, os agressores incendiaram a casa do chefe indígena. O caso ainda é investigado pela Polícia Federal e ninguém foi preso pelo atentado.
O confronto da tarde desta quinta-feira (7) aconteceu por volta das 14h numa área que é dominada pelos oponentes do cacique. Um grupo de apoiadores de Carlinhos Alfaiate teria entrado nesse local e sido recebido a tiros, segundo relatos de um oficial da BM. Os disparos teriam vindo do interior de uma residência. O homem morto é filho de um dos "capitães" do cacique (os caingangues se organizam de forma militar). O nome ainda não foi divulgado.
Os outros três feridos também são ligados ao cacique. Um deles, em estado gravíssimo, foi levado de ambulância ao hospital de Palmeira das Missões.
Em reação, o grupo de apoiadores de Alfaiate teria percorrido, armado, as ruas de São João do Irapuã. Um pelotão da BM se deslocou à vila e prendeu em flagrante um desses caingangues, que estava com uma espingarda.
"Situação alarmante", diz oficial da BM
Revoltados com a morte do caingangue, seguidores de Alfaiate bloquearam a principal rodovia da região, a RS-330, que liga os três municípios onde está situada a reserva indígena: Miraguaí, Redentora e Tenente Portela.
A BM deslocou 10 viaturas com 40 policiais para tentar serenar os ânimos e realizar patrulhamentos.
— Está muito difícil, porque chove torrencialmente na região e as estradas estão tomadas por lama. A situação é preocupante, porque tem muita gente armada — informa um tenente PM ouvido por GaúchaZH.
A briga na Reserva da Guarita envolve diversos fatores. O principal é que passam pelo cacique indicações para cerca de mil postos de trabalho que beneficiam os caingangues — entre agentes de saúde, professores e mesmo trabalhadores da iniciativa privada, como frigoríficos. Além disso, existem arrendamentos de terra indígena para não índios — uma iniciativa ilegal, mas histórica na região.
As lavouras, que correspondem à metade dos 24 mil hectares da reserva, são alugadas para plantadores não índios e parte do lucro fica com o grupo que comanda a aldeia. Há tendência no governo federal de legalizar o arrendamento em área indígena, mas a prática continua ilegal.