Em março, estive em Suzano (SP) para cobrir o massacre na Escola Estadual Raul Brasil para GaúchaZH. O que encontrei, ao chegar ao local da tragédia, foi um colégio em choque, aterrorizado pela violência súbita e mortal. Lá, 10 pessoas perderam a vida – incluindo os dois algozes, que se suicidaram — e 15 ficaram feridas. A maioria jovens.
Em Charqueadas, as primeiras informações sobre o ataque ao Instituto Estadual Educacional Assis Chateubriand, nesta quarta-feira (21), dão conta de que não houve mortes. Três adolescentes foram atingidos pelo agressor e, segundo autoridades, estão fora de risco — um alento depois do susto. Ainda assim, o episódio marcará para sempre a memória de quem presenciou as agressões.
Em Suzano, no dia seguinte ao crime, entrevistei uma sobrevivente que, em meio a gritos de desespero e a golpes de machadinha, entrou em luta corporal com um dos criminosos. Rhyllary Barbosa de Souza, 15 anos, conseguiu se desvencilhar e fugir, abrindo a porta para colegas em pânico e salvando dezenas de amigos. Vinte e quatro horas depois, vi nos olhos daquela menina doce e sonhadora o medo de que acontecesse outra vez.
O desafio que Rhyllary enfrentou ao voltar à sala de aula é, também, a partir de agora, o desafio de Charqueadas. Não será fácil superar o trauma, mas recomeçar é preciso.