Enquanto moradores tentavam se abrigar da sequência de disparos no início da noite de domingo, no bairro Santa Cruz, em Gravataí, uma moradora ia no sentido contrário. Percorria correndo o trecho entre a casa onde vive e o campo de futebol. Minutos antes, o filho de 11 anos havia pedido para brincar no gramado com outras crianças. Era lá que o menino estava quando atiradores alvejaram a sede do clube Três Estrelas. O ataque deixou oito feridos e dois mortos: Maiara Emili Silveira da Silva, 20 anos, e Adélio Junior Souza Antunes, 28 anos.
— Foram uns 10 minutos entre o momento que deixei ele ali e quando começaram os tiros. Fiquei apavorada. Saí correndo e gritando por ele. Agora, ele não sai mais de casa — contou a mulher, ainda assustada na manhã desta segunda-feira.
Por medo de represálias, a moradora, assim como outros que residem perto do campo de futebol, prefere não ser identificada. Da janela de casa, o menino, agora sob vigília constante, conversava com os amiguinhos do bairro. O campo, a poucos metros dali, é cercado de residências. Junto à sede do clube, no chão de terra havia, pelo menos cinco marcas de sangue. Copos e garrafas foram abandonadas no trajeto. Projéteis de pistola foram recolhidos pela manhã pelos investigadores.
— Ultimamente, o bairro estava tranquilo. Aqui todo mundo se conhece. São pessoas boas, trabalhadoras: como essa guria (Maiara) que morreu de graça. Era uma torcedora, só isso. Como muitos são aqui. Não dá mais para sair de casa tranquilo. Pode virar alvo — lamentou um morador, junto à sede.
O prédio de alvenaria estava com portas e janelas fechados com cadeados. No momento do ataque, ali dentro era preparado o galeto para os jogadores e torcedores que confraternizavam após a partida. A equipe do Três Estrelas comemorava o resultado de 5 a 1 sobre o Bola Bola.
Algumas pessoas estavam sentadas do lado de fora, próximo da copa. Quando começaram os disparos, alguns tentaram se esconder nas casas próximas. Um dos baleados teria sido alvejado enquanto tentava escapar correndo.
— Estava no telefone com meu filho, quando ouvi os tiros. Abri a porta da garagem e o pessoal entrou apavorado. Moro há 42 anos aqui e nunca vi coisa igual — relatou uma das vizinhas do clube.
Residente há 28 anos no bairro, um casal que mora na Rua Quadros também acompanhava a movimentação da polícia durante a manhã.
— Ouvi os estampidos e pensei que eram foguetes. Então comecei a escutar as pessoas chorando e gritando. Aquela correria. A vizinha saiu apavorada porque o filho dela estava jogando no campo. Pensou que tinham acertado ele — contou a mulher.
Na manhã desta segunda-feira (22), o corpo de Antunes foi encontrado no pátio de uma empresa, nas proximidades do campo de futebol. Ele teria tentado escapar, após ser baleado, mas acabou morrendo. O velório de Maiara está previsto para se iniciar às 17h no Cemitério Jardim da Paz, em Porto Alegre. O enterro deve ocorrer às 9h30min desta terça-feira. Cinco dos oito feridos já foram liberados do hospital.