O esquema era sempre o mesmo: à noite, integrantes de um grupo criminoso invadiam propriedades rurais em pelo menos 19 municípios de diversas regiões do Estado para furtar desde cabeças de gado até implementos agrícolas. No local, abatiam os animais que, mais tarde, paravam em mercados da Grande Porto Alegre e, consequentemente, na mesa dos clientes. Sem saber, o consumidor acabava comendo carnes que eram frutos de crimes. Essa organização, que vem sendo investigada pela Polícia Civil desde maio deste ano, foi alvo de uma operação nesta terça-feira (27), que cumpriu mandados em sete municípios do Rio Grande do Sul. Foram presas 20 pessoas e outras quatro estão foragidas.
A especialidade do grupo era furtos abigeatos (quando há subtração de animais), mas as residências não eram poupadas pelos ladrões. A organização criminosa entrou na mira dos policiais durante a apuração de furtos na área rural de Santo Antônio da Patrulha, em maio. Desde então, teriam levado mais de 500 cabeças de gado, implementos agrícolas e objetos das casas nas propriedades.
O prejuízo é estimado em R$ 1,2 milhão. São 20 inquéritos instaurados e ainda são apuradas 50 ocorrências em área que vai de Capão da Canoa, no Litoral Norte, passando pela Região Metropolitana, e indo até Camaquã, no Sul. A Polícia Civil investiga 50 pessoas.
— Esta é a maior operação contra abigeato do Rio Grande do Sul — garante o delegado Cristiano Ritta, da Delegacia de Repressão aos Crimes Rurais e Abigeato, responsável pela Operação Patrulha.
O grupo também contava com receptadores. O crime, que começava na zona rural, terminava em mercados de pelo menos três cidades da Região Metropolitana. Três dos 50 investigados são donos de quatro estabelecimentos. Alberto Dorneles, André Bastos de Araújo e Miro Dragetti foram presos por suspeita de receptação. Dois mercados ficam em Cachoeirinha (Super Dornelles e Mercado do Nono), um em Esteio (Gabé) e outro em Canoas (Super Dornelles) – cidade que, segundo a apuração, seria a base da quadrilha.
No mercado Super Dornelles, em Cachoeirinha, foi encontrada mais de uma tonelada de carne imprópria para consumo durante a ofensiva policial. Nenhum dos estabelecimentos foi interditado.
Líderes da quadrilha estão entre os detidos
Foram cumpridos 24 mandados de prisão preventiva. Quatro dos alvos não foram encontrados e são considerados foragidos. Os dois suspeitos apontados como líderes do grupo estão entre os detidos. Eles foram identificados como Joari Silveira de Oliveira e João Carlos Fogaça da Silva.
As ordens judiciais foram cumpridas em Sapucaia do Sul, Gravataí, Cachoeirinha, Esteio, Canoas, São Leopoldo e Novo Hamburgo. Além de abigeato, os suspeitos vão responder por organização criminosa, receptação, posse ilegal de arma de fogo e crime contra as relações de consumo. Eles foram encaminhados à Penitenciária Modulada Estadual de Osório.
Foram apreendidas quatro espingardas, um revólver calibre 38, nove veículos, R$ 21 mil reais em dinheiro e uma tonelada de carne sem procedência.
GaúchaZH tentou contato com defesas dos suspeitos, mas não teve retorno até a noite desta terça-feira (27).