Quando ouviu estouros próximo ao meio-dia de ontem, no bairro Umbu, em Alvorada, a professora Maristela Acosta, 50 anos, imaginou que fossem bombinhas. Mas a sequência de estampidos não parou e a diretora da Escola de Ensino Fundamental Normélio Pereira de Barcelos temeu o pior. Dois jovens tinham sido mortos a poucos metros do colégio. Um deles, de apenas 16 anos, havia sido aluno da instituição.
Foi o segundo caso de ataques a tiros com mortos perto de escolas na Região Metropolitana em menos de 24 horas. No fim da tarde de terça-feira, dois homens foram executados e três pessoas baleadas — uma menina de oito anos, um adolescente de 14 e um cadeirante de 62 — em frente a um colégio no bairro Bom Jesus, na zona leste de Porto Alegre.
Em Alvorada, um dos mortos foi identificado como Luciano de Souza Viegas, 20 anos. O outro era um adolescente, de 16. Eles estavam em uma praça, a uma quadra da escola, quando foram surpreendidos pelos disparos. O mais novo havia estudado até 2013 na instituição de ensino.
— É muito difícil trabalhar valores como amor em sala de aula, enquanto na rua eles vivem isso — resumiu Maristela, que atua na escola há 26 anos.
Cerca de 1,1 mil alunos estudam no colégio. Eles foram liberados mais cedo pela manhã por conta de uma reunião. Apenas por isso o ataque não coincidiu com o horário de saída.
— Poderia ter acontecido algo ainda pior — disse a educadora.
Suspeita é que tenha relação com tráfico
À tarde, parte dos alunos não compareceu à escola. Uma dona de casa, de 38 anos, decidiu não levar o filho, de oito.
— Fica todo mundo com medo. Mas isso virou normal — lamenta.
Às 15h, no horário da saída, garotos, com mochilas nas costas, disputavam espaço no meio da rua para observar a perícia.
— Vocês viram os guris? Sabem quem eram? — perguntava desesperada uma moradora, de 42 anos. Temia que um dos mortos fosse seu filho, também adolescente. Tranquilizou-se quando lhe garantiram que não era ele.
— Quem tem filho aqui, vive com o coração na mão — disse a mãe.
Conforme o delegado Edimar Machado, os autores seriam quatro pessoas que estavam em um carro branco. Elas teriam passado atirando. Foram encontradas cápsulas de pistola 9 mm. Segundo ele, a suspeita é de que as mortes tenham relação com acerto de contas envolvendo tráfico de drogas.
— Não há câmeras e as pessoas que presenciaram a cena não querem falar — afirmou o delegado.