De janeiro a agosto de 2018, 5.961 veículos foram roubados em Porto Alegre — média de 24 casos por dia. Em 25 de setembro, 19 ocorrências foram registradas na Capital. GaúchaZH teve acesso à relação dos assaltos: não há horário, local nem sexo de vítima como preferência. Basta ter um veículo. Procuradas pela reportagem, quase todas as vítimas optaram pelo silêncio. Dois deles aceitaram contar sua história:
Na Zona Sul, vítima na porta de casa
Os pneus do carro nem haviam encostado o asfalto quando o casal foi abordado na saída de casa, no bairro Tristeza, na zona sul da Capital. “É um assalto”, gritou um dos criminosos, enquanto outro apontava a arma em direção ao veículo.
— Achei que fosse brincadeira, mas logo vi que não era — conta o microempresário de 61 anos.
Sem olhar para os assaltantes, o proprietário pedia calma à dupla. Em movimento contínuo, entregou a chave do carro, um Prisma adquirido há cinco anos. Ao olhar para o lado, viu a mulher de 56 anos em estado de pânico, sem conseguir se mexer.
— Ela travou na hora. Fiquei preocupado de ela levar um tiro. Foi tudo muito rápido, acho que uns 30 segundos — conta.
Mais de duas semanas após o crime, a mulher ainda tem medo de sair de casa. A ida para o trabalho a pé agora é evitada e a lembrança do roubo ainda é recente na memória. Após o assalto, a família procurou a polícia. No dia seguinte, foram avisados pela seguradora de que o veículo havia sido recuperado, abandonado no bairro Medianeira, na Capital. O carro retornou às mãos do dono sem o rádio, com arranhões na lateral e a proteção de um dos pneus danificada.
— O bairro aqui está meio abandonado. Dia desses abordaram duas gurias de 12 anos e colocaram arma na cabeça delas para exigir o celular. Eram meninas de 12 anos! — desabafa o homem.
Na Zona Norte, motocicleta levada por dupla
Desde que teve a motocicleta levada em um roubo, no bairro Rubem Berta, na Zona Norte, um rapaz de 31 anos leva o dobro de tempo para chegar, de ônibus, ao trabalho. Moradores de Viamão, ele e a companheira haviam decidido comprar o veículo após serem assaltados enquanto esperavam um coletivo para ir à Capital.
— A gente usava para tudo. Era muito prático — conta.
Agora, só ficaram os boletos da motocicleta. Por sorte, tinha seguro. Dos R$ 6 mil pagos, vai conseguir resgatar R$ 3 mil.
Do nada, outra moto veio e me fechou. Em seguida, anunciaram o assalto. Um deles ameaçou puxar uma arma, mas não paguei para ver
VÍTIMA DE ASSALTO
O assalto do jovem foi o último registrado em 25 de setembro. Chovia quando chegava à casa da sogra, por volta das 22h30min. A mãe de sua namorada tinha passado por uma cirurgia e, por isso, ela ficaria como acompanhante no hospital. Já ele só iria pernoitar no apartamento.
— Do nada, outra moto veio e me fechou. Em seguida, anunciaram o assalto. Um deles ameaçou puxar uma arma, mas não paguei para ver — conta a vítima, dizendo que os criminosos estavam com roupa para chuva e capacete.
Dias após o crime, o casal passava pelo bairro Navegantes quando deparou com cena parecida. De dentro de um carro, presenciaram dois motoqueiros “fechando” outro, que acabou tendo o veículo levado pelos criminosos.
— Podiam ser os mesmos que me abordaram — conclui.
FIQUE ATENTO
- Ao ter o carro roubado, ligue para o 190, telefone de emergência da Brigada Militar. Por meio da ligação, segundo a corporação, é disparado alerta para os batalhões de Porto Alegre que podem começar as buscas ao criminosos.
- Em seguida, procure a delegacia mais próxima. Casos de roubo ou furto de veículo não podem ser registrados pela internet.
- Cuidado com golpes. Após os assaltos, muitas vítimas acabam compartilhando informações pessoais – desde o modelo e placa do veículo até telefone de contato – e são procuradas por golpistas. Em muitos casos, essas pessoas se passam como autores do assalto, mas, na verdade, não estão com o veículo.
- Não negocie com criminosos. Em muitos casos, as vítimas acabam entregando valores para os ladrões para ter o carro de volta. A orientação é não dar dinheiro para o “resgate do carro” e informar a BM e a Polícia Civil.