
Aproximação com a comunidade, intensificação do trabalho de inteligência, ações ostensivas realizadas com frequência e maior qualificação nos inquéritos. Essas são as principais ações apontadas pela Polícia Civil e pela Brigada Militar na explicação de significativas quedas nos números de homicídios em duas cidades do Vale do Sinos. Nos primeiros oito meses deste ano, comparados ao mesmo período de 2017, em São Leopoldo houve uma queda de 65% nos casos. Em Novo Hamburgo, a redução foi de 51%. Os dados são da planilha de assassinatos da Editoria de Segurança de GaúchaZH.
Em janeiro de 2017, São Leopoldo teve um número assustador de homicídios: foram 19, média superior a um a cada dois dias. O dado serviu de alerta para as forças policiais da cidade, que se refletiu na queda do número de casos. Entre janeiro e agosto do ano passado foram 77 e, no mesmo período deste ano, 27.
— Começamos a repensar a forma de trabalho. Em vez de só investigar, resolvemos, como apoio da Guarda Municipal e da Brigada Militar, realizar também ações ostensivas nas áreas mais conflagradas — explica o chefe de investigações da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) do município, inspetor Odilei Bettanin.
De acordo com o policial, Vila Brás, Chácara dos Leões, Vila dos Tocos (bairro Santos Dumont), Feitoria e Vicentina eram as regiões que apresentavam o maior número de homicídios. A partir desse levantamento, as ações começaram a ser realizadas.
— Tiramos policiais de dentro da delegacia e fomos marcar presença juntos às comunidades, com trabalho de identificação e abordagens. Em contrapartida, as comunidades, percebendo a presença da polícia, sentindo que estávamos dando uma resposta, começou a nos passar informações importantes — diz.
Como resultado, segundo Bettanin, os inquéritos resultantes das investigações dos homicídios ficaram mais consistentes, principalmente por apontarem, além dos executores, os mandantes dos crimes.
— O número de prisões caiu, mas a qualidade dos inquéritos cresceu. Podemos ir em qualquer boca de fumo e prender a rodo, mas isso, por si só, não faz cair o número de crimes. Nesses casos, os presos, que estão na parte baixa da hierarquia das facções, são substituídos e tudo segue como antes. Aprofundando as investigações, chegamos aos mandantes, que, na maioria dos casos, já estão em prisões — explica o policial.

De acordo com Bettanin, a Polícia Civil está enfraquecendo as facções criminosas também por meio de investigações de lavagem de dinheiro e de organizações criminosas. Com isso, líderes, mesmo já presos, estão sendo indiciados.
Entre os casos investigados com sucesso pela Delegacia de Homicídios, com a identificação, prisão e indiciamento dos suspeitos do crime está a morte de Edenilson Borba Troquato, 18 anos. Ele foi encontrado morto com a cabeça dentro de um cupinzeiro, na Vila São Borja, no dia 19 de março do ano passado.
Com a apuração, a DHPP descobriu que ele havia participado de uma festa rave e, em consequência de um desentendimento, acabou morto a pauladas.

— A Polícia Civil, apesar de falta de estrutura, trabalhou muito bem e se empenhou pela prisão dos culpados. Foi um grande consolo. Mas a gente fica com medo pela crueldade dos que mataram e que, mesmo assim, a Justiça solte eles — desabafa a autônoma Francine Borba, 24 anos, irmã da vítima.
O comandante do 25º Batalhão de Polícia Militar (25º BPM), tenente-coronel Carlos Daniel, corrobora a avaliação de Bettanin, no que diz respeito ao trabalho conjunto entre as forças policiais.
— Na realidade, é um conjunto de ações. Não existe uma medida única. A Brigada Militar, através da Operação Avante, nos permite avaliar o movimento criminal e planejar o trabalho. O cobertor é curto, então, focamos onde a demanda é maior e trabalhamos com metas definidas — diz o oficial.
Entre as medidas destacadas por Daniel estão as abordagens a veículos, o foco na apreensão de drogas e armas, a "operação visibilidade" e a aproximação com a comunidade, visando o fluxo de informações.
Em NH, foco na investigação
Em Novo Hamburgo, a queda no número de homicídios nos oito primeiros meses do ano foi de 43 para 21, na comparação entre 2017 e 2018.
— É resultado de um conjunto de fatores e de ações da segurança pública que acabaram refletindo nessa queda dos casos. O quadro geral é de que houve uma redução significativa em todo o Estado. Aqui em Novo Hamburgo, adotamos um programa de redução de homicídios focado nas investigações e na captura de executores e mandantes de crimes. Resulta de um conjunto de ações das forças de segurança, integração com as investigação de tráfico de drogas e com a BM e Guarda Municipal — avalia o delegado de homicídios, Rogério Baggio Berbicz.
Pela Brigada Militar, o tenente-coronel Márcio Uberti Moreira, comandante do 3º BPM, destaca o trabalho da Patrulha Tático-Móvel (Patamo) que, segundo ele, com base no trabalho da inteligência, foi direcionado para determinados dias da semana e locais com grande incidência de crimes, resultando em flagrantes e prisões de foragidos, principalmente.
— Consequentemente, ocorreram reduções nos indicadores criminais, entre os quais, o de homicídios — afirma.
* Produção: Rossana Gueller