O clima sempre amistoso e de alegria na casa da comerciária Denise Dutra, 38 anos, de Gravataí, mudou radicalmente nos últimos dias. O motivo foi a trágica morte do filho mais velho de Denise, Luciano Júnior Dutra de Carvalho, 19 anos, vítima de um latrocínio (roubo com morte), na noite de segunda-feira (6). Por volta das 19h, o jovem retornava a pé do trabalho quando, na Travessa Fraga, no bairro Central, foi atacado por dois assaltantes armados.
— Ele (Júnior) estava sempre cantando, com os fones no ouvido, ligados no celular. Parece que puxaram a mochila e o telefone dele. Acredito que ele estivesse distraído e tenha se assustado. Pensando que ia reagir, os assaltantes atiraram. O tiro pegou na cabeça, e eu perdi meu filho, por causa de um celular — lamenta a mãe, em meio a lágrimas.
Até então, de acordo com Denise, a casa da família vivia sob um constante clima de festa.
— Parecia uma casa de loucos. Os guris (além de Júnior, ela tem outro filho de 14 anos), eu e o meu marido estávamos sempre brincando, como crianças, um beliscando o outro, ou puxando o cabelo — lembra.
Júnior trabalhava em uma mecânica e ajudava no orçamento da família. Denise estava particularmente feliz. Depois de mais de um ano desempregada, conseguiu uma colocação em um supermercado. Havia três dias que começara a trabalhar, quando recebeu a trágica notícia.
— Eu havia terminando um último rancho, e o celular, que estava no silencioso, não parava de vibrar. Mas achei que estava tudo bem e não me preocupei em atender. Foi aí que minha chefe me chamou para uma sala e vi que meu filho mais novo estava lá. Ele pediu para eu ligar para o meu marido, que me disse que o Júnior tinha levado um tiro na cabeça e estava muito mal. Mas, na verdade, ele já tinha morrido. Fui no hospital e deparei com ele numa maca, ainda sujo de sangue e com as mãos engraxadas do trabalho.
De acordo com Denise, Júnior gostava muito de sair com os filhos, mas tinha a preocupação constante de tranquilizar a mãe, informando com quem e onde estava. Chegava a mandar fotos para comprovar.
O jovem foi sepultado na manhã desta quarta-feira (8) no Cemitério Municipal de Gravataí. A tristeza de Denise não a impede de pensar na situação de outras mães.
— Eu tenho muita pena das mães dos jovens que fizeram isso com ele, pois ninguém cria filhos para matar os outros. E, infelizmente, não serei a última mãe a passar por isso, porque ainda vamos ver muitas chorando por seus filhos, nesse estado de violência que vivemos.
Tentativa de assalto poderia ter relação com o assassinato
A morte de Luciano Júnior está sendo investigada pela 2ª Delegacia de Polícia de Gravataí. Conforme o delegado Rafael Sobrero, policiais procuram imagens de câmeras de segurança que tenham flagrado o crime.
Além do assassinato do jovem, um outro roubo com uma pessoa baleada na área da mesma delegacia, também na noite de segunda-feira, é investigado. Um motorista do aplicativo Uber foi ferido em uma das pernas ao reagir a um roubo cometido por três passageiros —dois homens e uma mulher. O homem teve o carro levado pelo trio na Rua Padre Chagas, no bairro São Judas Tadeu. O motorista sobreviveu aos ferimentos.
O delegado não descarta relação entre os dois assaltos e afirma que apreendeu, na terça-feira, uma arma que será submetida a perícia. É investigada a possibilidade de a mesma arma ter sido usada nos dois crimes.