Passados 24 anos, o cantor e compositor nativista Luiz Carlos Borges voltou a dedilhar as cordas de aço de um violão que comprou em 1994, na Polônia, e que foi furtado cinco meses depois no seu sítio, em Viamão, na Região Metropolitana. O instrumento estava com um motorista de transporte por aplicativo e foi recuperado pela 2ª Delegacia de Polícia de Porto Alegre na sexta-feira (23). Nesta segunda-feira (26), o músico foi buscá-lo.
Borges espremeu os olhos para enxergar a assinatura do fabricante atrás das cordas e apontou a letra C, talhada a mão perto das tarraxas, para ter certeza de que se tratava do mesmo violão. Afinou e tocou uma de suas composições mais famosas: Tropa de Osso.
— É muito boa a emoção de colocar a mão em um instrumento que tu comprou por achar bom — comentou.
O músico lembrou que, ao passear por uma feira na Cracóvia, depois de um show, viu um violão branco com cordas de aço que o fez interromper a caminhada entre os estandes. Conversou com o fabricante, um alemão de Frankfurt, que se identificou pelo apelido de Cheri. O artesão explicou que trabalhou dois anos naquele e em outros quatro violões, que se diferenciavam por detalhes. Argumentou que havia os produzido especialmente para aquela feira e que o comprador do exemplar, o último dos cinco, teria de ser, obrigatoriamente, sul-americano.
— Tinha vendido os outros violões um para cada continente e faltava apenas a América do Sul (o vendedor dividiu o continente americano em duas partes; do Sul e do Norte). Mostrei meu passaporte e comecei a pechinchar — recordou o artista.
Borges procurava um instrumento de cordas em aço, já que era mais comum, à época, o uso de violões de cordas em nylon. Adquiriu por pouco mais de 900 dólares, mas não teve tempo de levá-lo aos palcos. Apenas um jingle e duas músicas de amigos foram gravadas com o instrumento.
— De vez em quando eu colocava o disco (do amigo que gravou duas músicas) para ouvir esse violão. Gosto da delicadeza dele. Deu uma amarelada e está precisando de alguns reparos, mas continua muito bom. É tão bom que mesmo assim, mal cuidado, afina bem ainda. Foi esse um dos motivos que comprei — comentou.
O paradeiro do instrumento começou a ser revelado quando um motorista de transporte por aplicativo comentou com um cliente que havia comprado um violão que acreditava ter pertencido ao cantor tradicionalista. O passageiro mostrou interesse na conversa e fez perguntas sobre as características, como marca, modelo e cor. Apurados os detalhes, o homem levou as informações para Luiz Carlos Borges, amigo seu de longa data.
O cantor informou a polícia e deixou que a 2ª Delegacia de Porto Alegre seguisse o rastro. Os investigadores descobriram que o instrumento foi vendido ao motorista por R$ 100 há mais de 10 anos e que passou por pelo menos duas pessoas antes.
— Ele entregou o violão tranquilamente. Não pareceu que agiu de má fé. Até disse que gostaria de conhecer o Luiz Carlos Borges pessoalmente — contou o delegado César Carrion, referindo-se ao motorista.
O crime cometido em 11 de outubro de 1994 já prescreveu, mas há possibilidade de indiciamento por receptação.
Foi também a equipe da 2ª delegacia de polícia que recuperou, em junho de 2017, a gaita furtada da cantora Berenice Azambuja. O instrumento foi levado de sua caminhonete, mas recuperado dois dias depois em Porto Alegre. A 2ª Delegacia de Polícia deve concluir este inquérito nos próximos dias.