O Ministério Público (MP) acredita que a funcionária de uma fábrica de calçados de Parobé, Eloísa Freitas de Moraes, 56 anos, morta a facadas em março deste ano, foi vítima de um sacrifício humano, em um possível ritual. O crime, ocorrido em março, teve inquérito concluído pela Polícia Civil como sendo um latrocínio (roubo com morte), mas a promotora Daniela Fistarol não se convenceu da versão e, após novas apurações, ofereceu adendo à denúncia. Eloísa teria sido usada para uma espécie de oferenda.
O casal Daniel da Silva, 23 anos, e Adriana Moreira dos Santos, 41 anos, além do pai de santo Kennedy dos Santos Pires, 52 anos, apontado pelo MP como mandante e coordenador do crime, estão presos. Eles foram denunciados por homicídio qualificado, furto qualificado e ocultação de cadáver e já são réus no processo que tramita em Parobé.
— O laudo de necropsia mostrou que a vítima foi atingida por 58 facadas em pontos específicos do corpo, que possibilitaram que o seu sangue fosse retirado, provavelmente, como indica um dos réus, para fins religiosos, como uma oferenda — aponta a promotora Daniela.
Morta dentro de casa, Eloísa foi arrastada até um descampado no próprio distrito e o corpo foi enterrado em uma cova rasa. Mas até a ocultação do corpo teria envolvido algum tipo de ritual. O corpo teria sido limpo e vestido com uma roupa limpa. Depois, enterrado em posição fetal.
Os criminosos fizeram ainda uma limpa em eletrodomésticos e outros pertences na casa da vítima. A maior parte dos objetos foi encontrada na casa dos suspeitos.
Segundo a promotora, testemunhas confirmam que havia desavença entre Eloísa e Adriana por motivos religiosos. Enquanto a suspeita seguia o pai de santo que agora é apontado como suspeito do crime, Eloísa era adventista.
O laudo de necropsia mostrou que a vítima foi atingida por 58 facadas em pontos específicos do corpo, que possibilitaram que o sangue fosse retirado, provavelmente, como indica um dos réus, para fins religiosos, como uma oferenda.
DANIELA FISTAROL
Promotora de Justiça
A denúncia aponta que o crime aconteceu na noite de 9 de março deste ano, quando a casa de Eloísa, onde ela morava sozinha, foi invadida pelos fundos. O corpo, porém, só foi encontrado no dia 17 do mesmo mês, depois de uma mobilização da comunidade e da prisão dos primeiros suspeitos.
— Logo após o desaparecimento, a vizinhança estranhou que, entre todos na localidade, somente Daniel e Adriana estivessem indiferentes às buscas pela vítima. Então, sinais suspeitos começaram a aparecer — relata a promotora.
Primeiro, moradores encontraram uma sacola com pertences de Eloísa, ensanguentados, nos fundos da casa do casal. Dias depois, ao se aproximar um caminhão de lixo, Silva não deixou o seu material na rua, preferiu entregar diretamente no caminhão. Foi surpreendido por vizinhos, e aí surgiu a principal pista: toalhas sujas de sangue.
Diante destes elementos, a polícia solicitou as prisões de Silva, Adriana e de Pires, que na época era apontado por testemunhas como suspeito. A participação do pai de santo não foi comprovada pela polícia depois de ouvir o casal de suspeitos. A convicção do MP, porém, é de que ele invadiu a casa junto com Silva e apunhalou a mulher. Daniel da Silva confirmaria a versão e a motivação religiosa.
Ele e Adriana teriam confessado o crime à polícia, e ela indicou o local onde estava o corpo. Para a polícia, ela isentou Pires de qualquer participação no assassinato. Alegou que a intenção do companheiro era roubar a casa de Eloísa. Ele teria matado Eloísa ao ser reconhecido.
Pai de santo tem histórico de crimes
O pai de santo Kennedy dos Santos Pires está preso preventivamente desde o mês passado, enquanto o casal está na cadeia desde março.
— Os depoimentos das testemunhas sempre relatavam a proximidade entre os três suspeitos e a relação de influência do pai de santo, não só sobre o casal, mas sobre outras pessoas, com um histórico criminal preocupante — afirma a promotora.
Há pelo menos dois casos que intrigam as autoridades. Um deles teve justamente Daniel da Silva como vítima de cárcere privado e agressão por parte de Kennedy Pires. Em outro caso que chegou à Justiça, o pai de santo é apontado como autor de lesões contra um idoso, que resultaram na sua morte.
Em outubro, outro homem foi internado no Hospital São Francisco de Assis, em estado grave, com lesões pelo corpo resultantes, segundo a vítima, de um ritual religioso. O crime teria acontecido justamente no endereço de Kennedy Pires.
Conforme a denúncia, o pai de santo se utilizaria da autoridade religiosa para cometer graves crimes. A promotora ainda completa no adendo apresentado por à Justiça:
— Provavelmente, há muitos casos que nunca vieram a público.
Contraponto
De acordo com o advogado Bruno Costa, que defende o pai de santo Kennedy dos Santos Pires, a tese de ritual "não está nem próxima de ser concreta".
— A polícia teve a suspeita sobre ele, mas não o indiciou justamente porque não tinha elementos — diz o defensor.
O advogado estuda pleitear a liberdade do pai de santo.
A reportagem tentou contato com os defensores de Daniel da Silva e de Adriana dos Santos, sem sucesso.