Guias turísticos que fazem passeios na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, afirmaram que a espanhola Maria Esperanza Ruiz, 67 anos, morta na manhã desta segunda-feira (23) pela Polícia Militar, deve ter sido guiada ao local por alguém de fora da comunidade, sem conhecimento dos conflitos do tráfico no local. O carro ocupado pela vítima não obedeceu a ordem de parar e tentou passar por um bloqueio feito pela Polícia Militar.
— A gente trabalha com guias locais e um vai passando informação para o outro. Todo dia, tem que avaliar a situação. Como a gente é daqui, sabe dizer se dá ou não. Trabalho com isso há três anos e nunca tive problema. A gente zela. Tem todos os cuidados. Sabe os locais de perigo. Não vai levar turistas a vielas onde tem facilidade de acontecer algo. E claro que, se algum policial recomendar que não haja passeio, a gente não vai. Um guia local nunca iria desobedecer uma ordem da polícia para parar o carro. Talvez a pessoa não tenha escutado bem — contou Roberto Júnior, coordenador do Favela Walking Tour, um dos muitos serviços turísticos da Rocinha.
Ele disse que não há interação entre os policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da favela com os que estão reforçando o policiamento no morro há um mês, desde que houve a invasão por traficantes rivais em área do grupo que comanda o comércio de drogas atualmente. Segundo ele, a decisão por fazer ou suspender os passeios acaba sendo individual. Já outro guia ouvido pela reportagem, que não quis se identificar, relatou que, diariamente, desde o início dos conflitos nas favelas, policiais fazem uma avaliação em casos de risco de tiroteio e orientam as empresas a não levar visitantes para o morro.
Na semana passada, a reportagem presenciou um grupo de turistas passeando em um dia de tiroteio. Na ocasião, o capitão Maicon Pereira, um dos porta-vozes da PM, afirmou que a visita não era recomendada. Segundo os guias, o movimento de turistas caiu a menos da metade no último mês por causa dos conflitos. Em um dia chuvoso como esta segunda-feira, visitantes que deixam de ir ao Cristo Redentor e Pão de Açúcar em razão da baixa visibilidade, por exemplo, optam por visitar comunidades.
— Tem muita gente que sonha conhecer uma favela. Ver o que ninguém noticia. Mostramos que a maioria é trabalhador. Eles veem o que não está no cartão-postal — justificou Júnior.