O Rio Grande do Sul registrou nos seis primeiros meses deste ano 18.252 furtos e roubos de veículos. Representa 101,4 automóveis levados por dia. Mesmo diante dos números que assuntam, houve redução de 13,1% nos furtos, que ocorre quando o motorista não está por perto, mas houve aumento de 3,2% nos roubos, quando há violência, em uma comparação com o mesmo período do ano passado.
E o aumento desse crime tem refletido diretamente no valor dos seguros, como destaca o diretor-executivo da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), Julio Rosa.
“Na necessidade de recuperar, pelo elevado número de roubo e também pela queda de vendas, as seguradoras tiveram que mexer em preços. Independentemente de marca e modelo, já que são mais de cinco mil, houve aumento de 25 a 30% nas tarifas básicas de seguro de automóvel”, afirma.
O presidente do Sindicato dos Corretores de Seguros do Rio Grande do Sul, Ricardo Pansera, lembra que a Grande Porto Alegre é a região onde os seguros são mais altos do Rio Grande do Sul.
“Porto Alegre e Região Metropolitana são os locais mais assustadores do nosso Estado. Cerca de 70% dos roubos ocorrem aqui nessas regiões. Então isso justifica que o preço do seguro, muitas vezes, aqui em Porto Alegre, ele é mais do que o dobro do que uma cidade do interior, pacata, que às vezes passa um ano inteiro sem ter uma ocorrência de roubo de veículos”, conta.
Segundo Pansera, cidades da Região Central, como Santa Maria, têm os seguros mais baixos, que registram poucos roubos. O presidente do Sincor diz que uma notícia boa nos últimos meses é o aumento na recuperação dos veículos levados pelos bandidos.
“O nosso mercado está hoje vendo uma sensível melhora na recuperação de veículos. Era uma medida de 25 a 30% e hoje já está ultrapassando 50% essa recuperação”.
Mas mesmo diante da crise econômica e do aumento dos roubos, que refletem em reajuste de preços dos contratos, o mercado de seguros segue crescendo. Pansera afirma que até junho, o crescimento foi de 4,4%.
O ranking das capitais
A pedido da Rádio Gaúcha, a Pansera Corretora de Seguros simulou o valor do seguro de um veículo Gol, ano 2012, 1.6, pertencente a um homem casado, de 36 anos, morador da área central das capitais brasileiras. A diferença é quase o dobro entre o valor mais alto e o mais baixo:
RIO DE JANEIRO R$ 3.321,30
PORTO ALEGRE R$ 3.004,50
SÃO PAULO R$ 2.806,67
GOIANIA R$ 2.586,28
SALVADOR R$ 2.567,03
NATAL R$ 2.230,55
CURITIBA R$ 2.197,76
CUIABÁ R$ 2.175,84
MACAPÁ R$ 2.114,33
VITÓRIA R$ 2.111,47
TERESINA R$ 2.105,23
BELO HORIZONTE R$ 2.054,99
FORTALEZA R$ 2.006,71
MACEIÓ R$ 2.004,31
SÃO LUIS R$ 1.963,27
PORTO VELHO R$ 1.943,82
RECIFE R$ 1.932,61
FLORIANÓPOLIS R$ 1.913,38
BRASÍLIA R$ 1.913,20
PALMAS R$ 1.870,68
RIO BRANCO R$ 1.865,07
CAMPO GRANDE R$ 1.858,22
ARACAJU R$ 1.764,05
BOA VISTA R$ 1.742,64
MANAUS R$ 1.737,13
BELÉM R$ 1.729,74
JOÃO PESSOA R$ 1.718,83
O diretor-executivo da FenSeg afirma que o mercado já teve mais difícil, como no fim do ano passado, muito em razão da queda nas vendas de veículos novos, mas que neste ano, melhorou. Júlio Rosa explica que quando o veículo é recuperado, existem três classificações.
“Tanto na colisão, quando nos recuperados de roubo com avarias, existem pequenas, médias e grandes montas. Se for pequena e média, ele vai para leilão, já que o veículo passa a ser uma propriedade das seguradoras. Nos casos de grande monta, baixa-se no Detran a documentação do carro e vira sucata”.
Local de trânsito e pernoite do veículo, marca e modelo e perfil do condutor são os componentes para definir o valor do seguro.
Estatísticas de furtos e roubos de veículos no RS:
2017
Furtos 8.712
Roubos 9.540
Total: 18.252
Frota - 6.492.839
Percentual levado pelos criminosos: 0,3%
2016
Furtos - 10.045
Roubos - 9.244
Total: 19.289
Frota - 6.403.542
Percentual levado pelos criminosos: 0,3%
2015
Furtos - 9.766
Roubos - 7.939
Total: 17.705
Frota - 6.234.770
Percentual levado pelos criminosos: 0,3%
2014
Furtos - 9.400
Roubos - 6.762
Total: 16.162
Frota - 6.023.696
Percentual levado pelos criminosos: 0,3%
2013
Furtos - 8.523
Roubos - 6.179
Total: 14.702
Frota - 5.721.904
Percentual levado pelos criminosos: 0,2%
O que dizem as forças de segurança
Polícia Civil
O titular da Delegacia de Repressão ao Roubo de Veículos do Departamento Estadual de Investigações Criminais da Polícia Civil gaúcha, delegado Marco Guns, foi um dos responsáveis pela Operação Macchina Nostra, que resultou na prisão, em 31 de março, de mais de duas dezenas de ladrões de veículos e receptadores.
“A Macchina Nostra teve repercussão nacional. Nós conseguimos demonstrar que uma organização criminosa foi responsável por mais de 1.500 roubos de veículos no Rio Grande do Sul de 2015 a 2017”.
O delegado sustenta que somente atacando as quadrilhas será possível reduzir consideravelmente esse tipo de crime.
“A única forma de nós conseguirmos, com a atual frouxa legislação processual penal e de execução penal, é de atacar esse crime por meio de identificação de componentes de organizações criminosas que operam no roubo de veículos”.
Para o delegado, as prisões preventivas e temporárias isoladas, mesmo que em grande número, não resolvem o problema.
“Nós temos que entender que esse mecanismo faz com que diversas pessoas ganhem muito dinheiro com o roubo de veículos. E são as mais diversas frentes que ganham dinheiro com o roubo e veículos”.
Marco Guns ataca fortemente a atual legislação penal para os bandidos que roubam, furtam e os que compram esses veículos ou as peças deles.
“Nós gostaríamos que o Brasil parasse também para discutir a progressão de regime, porque chegou a vez de as polícias falarem. E nós conhecemos a realidade. E uma legislação que com um sexto de cumprimento de pena, num crime de roubo, em que as pessoas são condenadas a uma média de cinco, seis, sete anos, isso vai fazer com que esse criminoso não fique um ano preso”, lamenta o delegado.
Conforme o delegado, mais de 350 pessoas foram presas neste ano no Rio Grande do Sul por envolvimento com roubos de veículos. Marco Guns sustenta que mesmo com o pequeno aumento dos roubos, a estratégia atual das polícias é a correta.
Brigada Militar
Além da investigação para prender as quadrilhas, é preciso prevenir o crime. Para o subcomandante-geral da Brigada Militar, coronel Mário Ikeda, ações de polícia ostensiva adotadas desde março ajudaram a evitar aumento maior nos roubos e reduzir os furtos de veículos.
“Felizmente, com essas ações, com aumento da ostensividade que nós conseguimos fazer através de trazer policiais militares do interior para Porto Alegre, a gente conseguiu estancar”, sustenta.
Assim como o delegado Marco Guns, Ikeda critica a atual legislação penal.
“Essa questão da legislação afeta bastante o roubo de veículos. Uma das questões que para nós ocorre diariamente é a prisão de pessoas que estão rodando com esses veículos roubados e acabam muitas vezes, somente com o crime de receptação, pagando a fiança e no outro dia saem para as ruas no mesmo instante, junto com o policial militar ou o policial civil. E isso acaba não reprimindo o crime de roubo de veículos”.
O coronel faz um alerta aos motoristas.
“Sempre na chegada, mas também na saída de casa, é preciso atenção. Muita atenção, observar a movimentação do entorno. E não reagir para ocorrer um mal maior, além de já perder seu patrimônio”.
O oficial lembra que os locais com grande número de residências são os mais visados pelos ladrões de carros.
“Geralmente entre sete e nove horas e no final da tarde, entre 17h e 22h, nos locais de maior poder aquisitivo”.
Mudanças um ano depois do latrocínio de Cristine
A tentativa de roubo de um veículo em 25 de agosto de 2016, que resultou na morte Cristine Fonseca Fagundes, de 44 anos, que aguardava o filho na saída do Colégio Dom Bosco, foi um divisor de águas para a segurança pública gaúcha. De lá para cá, o então secretário estadual da segurança, Wantuir Jacini, foi exonerado, o Governo decidiu pedir ajuda da Força Nacional de Segurança e centenas de policiais militares aprovados em concursos foram chamados para trabalhar nas ruas. O atual secretário estadual da segurança pública, Cezar Schimer, afirma que entre as medidas já adotadas, está a Operação Desmanche, que visa fiscalizar os estabelecimentos que vendem peças de veículos usadas. Ele garante que o combate a esse tipo de crime está entre as prioridades da pasta.
“Fora o homicídio, que é o crime contra a vida, que merece uma atenção muito especial da nossa parte, o maior desafio que nós temos é o roubo de veículos. Por que roubo de veículos? Porque Porto Alegre é a primeira capital brasileira em roubo de veículos”.
Schimer destaca que os bandidos mudaram a estratégia para levar os veículos.
“Antigamente, chamavam de fazer uma ligação direta e levavam o carro que eventualmente estivesse parado. Então o furto era muito grande. E atualmente com as tecnologias que estão aí, é muito difícil levar um carro que esteja parado. Então diminui o furto e aumenta o roubo”.