Todos os policiais da força-tarefa da Brigada Militar que atuam no Presídio Central de Porto Alegre seguem de prontidão neste domingo após tumultos em sequência durante a semana passada na maior prisão do Estado. Correria, agressão física e arremessos de pedras entre facções causaram tumulto no interior da hoje chamada Cadeia Pública de Porto Alegre, exigindo "ação enérgica" do Batalhão de Operações Especiais, conforme relato do diretor da casa prisional, tenente-coronel Marcelo Gayer.
Segundo o oficial, a situação está controlada, mas, por precaução, neste domingo trabalham na cadeia o dobro de servidores que atuam em condição de normalidade:
– A ação foi enérgica, mas atingiu o objetivo. Hoje (domingo) está mais tranquilo do que ontem (sábado). Isso porque nossas ações vão muito além da utilização de bombas. É necessário muito diálogo. Passei de galeria em galeria para conversar com os presos.
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Conforme o oficial, todos os envolvidos nos tumultos foram identificados e serão punidos com isolamento disciplinar e até transferência, se necessário, de acordo a proporção dos atos que cometeram. Gayer acredita que as medidas a serem tomadas pela administração da casa não inflarão os ânimos novamente:
– Os presos conhecem o regulamento e sabem que são punidos quando fazem coisas erradas. Estão acostumados com isso, pois acontecem todos os dias.
O tenente-coronel diz que um conjunto de fatores contribuiu para que ocorressem os atritos, entre eles a superlotação e o ingresso acima da média de novos presos ao sistema.
– Em média, chegam de 35 a 40 pessoas por semana. Na semana que passou, recebemos aproximadamente 70 presos. São pessoas novas, que não conhecem as regras. Além disso, há uma disputa normal de espaço devido à superlotação – concluiu o diretor, negando que um detento tenha sido espancado na sala de triagem por integrantes de facção rival.
Gayer confirma que houve agressão, mas que aconteceu nos corredores. A capacidade da casa prisional é de 1.824 detentos, mas abriga mais de 4,8 mil atualmente.
Entenda a confusão
A semana tumultuada teve o primeiro capítulo na segunda-feira (10), quando um dos líderes de uma das principais facções criminosas do Estado foi espancando por rivais. Esse foi um dos motivos do conflito de quinta-feira, envolvendo presos do Pavilhão F, que abriga mais de 1,1 mil, e do A, que tem cerca de 750 homens.
Com ânimos alterados, na quinta-feira (13) houve confronto com pedras usadas como armas entre integrantes das duas facções – uma estava no pátio e a outra nas galerias. Em áudio gravado pelos próprios presos dentro da cadeia, um detento narra troca de tiros.
A BM, com balas de borracha e bombas de feito moral, interveio para dispersar a confusão. Integrantes de um dos grupos, que estavam no pátio entre os pavilhões F e A, assando galetos, correram para se proteger. Ao mesmo tempo, gritavam e ecoava pelos pavilhões o nome da facção à qual pertencem.
No amanhecer de sexta-feira (14), um grande contingente de PMs do BOE ingressou na prisão para realizar uma revista especial em galerias de dois pavilhões. Desde 2005, não havia atritos entre facções no Presídio Central. Diferentemente da situação das ruas, na cadeia foi obtido um equilíbrio entre as diferentes facções que, em um pacto informal, decidiram interromper o ciclo de mortes e de troca de agressões. Os líderes, inclusive, passaram a participar das mesmas reuniões com órgãos representativos dos poderes do Estado.