As 14 horas de trabalho dos policiais militares que atuam na região do Vale do Taquari foram completamente atípicas naquele 7 de junho, de tempo fechado e frio, em Putinga. O assalto a duas agências bancárias no município de 4 mil habitantes movimentou as corporações que partiam para um cerco aos criminosos que apavoraram a população pela segunda vez em menos de quatro meses.
Ao cair da tarde, durante a organização dos grupos que montariam barreiras na saída da cidade, muitos PMs se voluntariaram para dar continuidade ao trabalho, entre eles, o soldado Geferson Rosolen, 28 anos. O que aconteceu nas horas que se seguiram e resultou na morte do PM é o que o delegado pretende descobrir. Para isso, pretende reconstituir o cerco.
– Todos os policiais que estavam em serviço naquele dia já foram ouvidos e o resultado dos laudos periciais do DML e das armas apreendidas irão definir os próximos passos da investigação – detalha o delegado Guilherme Pacífico.
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A principal hipótese é de que o tiro tenha partido de policiais civis que depararam com os militares na mata, os confundindo com criminosos. O delegado destaca, porém, que há outras possibilidades como a do tiro ter partido de alguém não identificado, visto que havia buscas das polícias na região.
À frente do Comando Regional de Polícia Ostensiva no Vale do Taquari (CRPO), o coronel Gleider Cavalli Oliveira conta que a fatalidade ocorreu durante diligências na linha São Pedro, estrada vicinal de Putinga. A estrada de chão batido tinha mato e árvores no entorno e as propriedades eram distantes umas das outras.
– Nessas condições, a visibilidade estava bastante prejudicada, já que não havia iluminação artificial – relata.
Colegas contam que durante a montagem dos grupos para a formação do cerco à cidade, as condições de trabalho não eram favoráveis.
– Estava anoitecendo, a temperatura já era mais baixa, traçamos as rotas com os mapas às escuras. Não tinha luz nem água no quartel – relatam colegas.
Os últimos instantes de atuação do soldado durante as buscas na estrada vicinal farão parte da reconstituição do caso, que a Polícia Civil pretende marcar nos próximos dias.
– Não trabalhava diretamente com o soldado, porém notava nas vezes em que tive contato com ele, seu comprometimento e desejo de contribuir com a corporação – detalha a subcomandante do 22º BPM, a capitã Karine Pires Soares Brum.
Segundo o tenente-coronel Paulo Rogério Farias Medeiros, comandante do 22º BPM, o soldado Rosolen trabalhava havia pouco mais de cinco anos na Brigada Militar e completaria 29 anos no último dia 15 de junho.
– Todos ficamos muito tristes, não há outro sentimento nesse momento. Era jovem, havia um futuro pela frente e recentemente tinha comprado uma casa – relata.
"Demonstrou bravura e comprometimento com seu trabalho", diz oficial da BM
Segundo o delegado, o policial civil que ficou ferido na ação se recupera em casa do tiro que o atingiu na perna direita. Ele tem 29 anos, pertence à Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento de Soledade e ficará 60 dias em licença médica, retornando ao trabalho somente após a conclusão do inquérito policial, que deve ser encerrado em 30 dias.
Conforme o capitão Ricardo Machado da Silva, do 22º BPM, o inquérito policial militar tem prazo de 40 dias para conclusão, podendo ser prorrogado por mais 20 dias.
– É precipitado fazer qualquer tipo de conclusão, pois as investigações estão em fase preliminar – adianta.
O soldado será homenageado no 30º dia de sua morte com o descerramento de uma placa no local do incidente.
– Queremos marcar aquele local para mostrar que o soldado, assim como os demais colegas, demonstrou bravura e comprometimento com seu trabalho e com a comunidade, apesar do cansaço e das condições adversas. Uma perda como esta, não pode ser considerada corriqueira, normal, ou somente consequência do trabalho – desabafa Karine.
"Foi tão rápido como roubar doce de criança", diz prefeito
O ataque do dia 7 de junho foi o segundo assalto a banco na cidade de 53 anos e pouco mais de 4 mil habitantes. Em janeiro, os criminosos formaram um cordão humano durante a invasão da agência do Banrisul, atitude repetida na última ação.
O prefeito Claudiomiro Cenci (PP) pretende marcar uma reunião, nesta terça-feira, com o comando da Brigada Militar na tentativa de conseguir mais efetivo para a cidade, que apesar de manter sua rotina normal, tem uma população amedrontada com os últimos acontecimentos.
– O que me deixa mais indignado é a facilidade e rapidez com que os criminosos coordenaram as ações. Demoraram menos de 30 minutos, pois sabiam que não teríamos reforço de efetivo antes disso. Foi tão rápido como roubar doce de criança – comenta.
Titular da 1ª Delegacia de Polícia de Repressão a Roubos, o delegado Joel Wagner diz que as investigações prosseguem. Há suspeitas da participação dos três homens que assaltaram a agência do Banrisul em janeiro.
– Esses três suspeitos já têm prisão preventiva decretada em virtude do roubo anterior e as circunstâncias do assalto realizado em junho são semelhantes – relata.
Na noite de sexta-feira (16), nove dias depois ao assalto no Vale do Taquari, três agências bancárias tiveram seus caixas eletrônicos explodidos por uma quadrilha especializada. Para o delegado, apesar de ter algumas semelhanças, as quadrilhas se diferenciam no turno que efetuam suas ações e nos artefatos que utilizam.
– Um dos grupos assalta durante o dia usando armas. O outro assalta à noite, com armas e explosivos – afirma.
A suspeita, é que o grupo que assaltou as agências bancárias em Putinga tenha origem na Serra. Já a explosão ocorrida nos caixas eletrônicos em Encruzilhada do Sul, pode ter entre os seus integrantes criminosos do Vale do Taquari e da Região Metropolitana.
Qualquer informação sobre os suspeitos ou denúncias podem ser feitas, sem a necessidade de identificação, para o disque-denúncia 0800-510 2828 ou via WhatsApp e Telegram (51) 98418-7814.