A operação policial da Delegacia de Roubos, do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), desencadeada na manhã desta quarta-feira contra uma quadrilha especializada em sequestros na Região Metropolitana, poderá esclarecer uma série de homicídios ocorridos desde o último caso de sequestro deste bando. Conforme o delegado João Paulo Abreu, a vingança supostamente ordenada pelo líder de uma facção criminosa que teve a companheira levada pelo bando não tardou.
Fazia apenas nove dias desde que a mulher de 31 anos havia sido sequestrada e libertada após o pagamento de resgate de quase R$ 1 milhão quando o corpo de um homem foi encontrado parcialmente carbonizado na zona rural de Santo Antônio da Patrulha, no dia 13 de maio do ano passado. Tratava-se de João Francisco da Silva de Carvalho. Ele havia sido capturado em São Leopoldo e, antes de ser morto, foi torturado. Toda a ação foi gravada e enviada por WhatsApp para detentos da Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc).
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De acordo com os investigadores do Deic, Carvalho era um dos responsáveis por manter o cativeiro usado pela quadrilha no bairro Feitoria, em São Leopoldo. O outro homem apontado por cumprir essa função na quadrilha era José Valdir Cavalheiro Júnior, o Du. Ele foi preso por tráfico de drogas no Vale do Sinos quatro dias depois do sequestro. No dia 18 de maio, Du apareceu morto no refeitório da Penitenciária Estadual do Jacuí (PEJ), em Charqueadas. Foi assassinado por asfixia.
– Temos comprovação de que o líder de facção que havia sido extorquido no sequestro passou a ameaçar a quadrilha. Ele exigia a devolução do dinheiro pago pelo resgate – aponta o delegado João Paulo Abreu.
A polícia estima que pelo menos outras quatro pessoas tenham sido assassinadas desde então na Região Metropolitana como represália pelo sequestro. Uma dessas vítimas foi Andressa Nervo Ribeiro, 26 anos, executada dentro de casa, no bairro Rio Branco, em Canoas, em agosto do ano passado.
Ela era companheira de Lauri Sávio Cunha, apontado como mentor do sequestro. O filho dele, de 17 anos, que está entre os investigados, é suspeito de ter escondido o dinheiro do resgate. Ele está desaparecido desde janeiro deste ano.
Todos os envolvidos na quadrilha serão indiciados por extorsão mediante sequestro. A investigação, porém, será desdobrada a partir de agora.
– Vamos partir para outro estágio, apurar a lavagem de dinheiro. Já sabemos que pelo menos um carro foi comprado com o valor do resgate. E, por outro lado, vamos apurar a origem do dinheiro do resgate. Como esse criminoso, preso na Pasc, levantou quase R$ 1 milhão em 10 horas? – explica o delegado.
As informações colhidas na investigação serão repassadas às delegacias de homicídios que apuram as mortes decorrentes da vingança.