A onda de violência em São José do Norte – município do sul do Estado que registrou em quatro meses de 2017 quase o triplo dos homicídios ocorridos em todo o ano passado – deixou as ruas desertas, e o reflexo é sentido no comércio. Por falta de clientes, lancherias e bares estão fechando até duas horas antes. Um taxista parou de trabalhar de madrugada por medo da violência e viu a sua renda despencar 40%. Uma das duas funerárias da cidade precisou interromper o velório de Igor Rodrigues Espírito Santo, 23 anos, em 7 de abril, às pressas e esconder o corpo na sala de preparação com medo que acontecesse uma chacina.
– Tinha um grupo fazendo terrorismo. Passavam em frente à capela armados e em carroças, motos e carros ameaçando a família do morto – disse um funcionário.
A funerária chamou seguranças para apoiar enquanto o cadáver era recolhido. A família se refugiou em Rio Grande e voltou apenas no outro dia para fazer o sepultamento de forma rápida e discreta.
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Em meio às mortes violentas, há, ainda, outros casos que chamam a atenção da Polícia Civil, como o de um homem que foi executado às 21h de um domingo movimentado. Éricles da Silva Hespíndola, 21 anos, foi morto a tiros na Rua Doutor Ernesto Alves, no Centro, diante de milhares de testemunhas, mas ninguém quis depor.
– Além dos homicídios, agora temos outro problema. São José do Norte é uma cidade pequena e acuada. Teve um homicídio com 3 a 4 mil pessoas na rua e ninguém viu nada, ninguém sabe de nada. Pessoal está com medo e até com certa razão. Estão matando pessoas que testemunharam os crimes – acrescenta o delegado Ronaldo Coelho.
O taxista reforça que há o medo comum das pessoas de serem baleadas ou mortas apenas por presenciar algum assassinato.
– Se você entregar alguém ou disser que viu alguma coisa, você morre. Eles te matam sem dó. A cidade sempre foi movimentada, pessoas fazendo compras no fim de semana, passeando. Agora é tudo deserto.
Comandante da BM fala em crimes premeditados
Vanderlane Alves é o representante do comércio junto ao Gabinete de Gestão Integrada, grupo que se reúne mensalmente para discutir a segurança. O empresário disse que o movimento nas casas noturnas foi um dos mais prejudicados e estima que as vendas, de forma geral, caíram 20% em abril, quando seis homicídios foram consumados.
– Clientes me ligavam dizendo que viriam aqui rapidinho pagar uma conta e já iriam voltar para casa por medo – comenta.
Considerado pelo comandante da Brigada Militar em São José do Norte, sargento Ronaldo Batista, como um "momento diferente" na cidade, ele ressalta que a corporação começou a detectar grupos criminosos muito bem organizados que até então não existiam.
– São todos crimes premeditados, por isso a dificuldade de serem evitados. Por mais que a gente tente antecipar as ações deles, com planejamento, distribuição do efetivo, a gente não consegue. Saem preparados, matam e somem.