Atacante do Grêmio Esportivo Sapucaiense, de Sapucaia do Sul, na Região Metropolitana, Marlon Natanael de Lima Alexandre, 21 anos, tornou-se internacionalmente conhecido não pela condição de craque, mas pelo envolvimento com o crime. O jogador foi preso quarta-feira durante partida Terceirona do Gauchão, quando estava no banco de reservas.
Aos cinco minutos de partida, da casamata, foi levado algemado à 2ª Delegacia de Polícia de Porto Alegre e depois para o Presídio Central, de onde vê o sucesso profissional se distanciar. Brincalhão com a família e impaciente com as vítimas são apenas dois traços da personalidade do suspeito, que já atuou, entre 2012 e 2014, em clubes como a Académica de Coimbra, de Portugal, Galícia Esporte Clube, da Bahia, Associação Desportiva Cabofriense, do Rio de Janeiro, e Clube Atlético Paranaense, do Paraná. Em alguns como profissional. Em outros, nas categorias de base.
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O primeiro crime pelo qual responde remonta a 3 de fevereiro de 2015, quando foi flagrado com um carro roubado no bairro Bela Vista, na Capital, após retornar de uma temporada na Europa. Para o amigo Eduardo de Castilhos Borges Cardoso, 21 anos, que acolheu Marlon em sua casa durante o período em que regressava a Porto Alegre entre um contrato e outro, as más influências e as condições financeiras podem ter sido determinantes para o seu possível ingresso na criminalidade.
– Ele é um cara bom, que todo mundo gosta. Se algo aconteceu, foi por causa das amizades. Ele veio morar com a gente quando a mãe dele foi embora para Santa Catarina – contou.
Eduardo viu os primeiros passos do colega no futebol profissional após um empresário decidir investir em Marlon e conseguir todos os contratos que o atacante assinou. Porém, o agente não chegou a acompanhá-lo na Europa. Morreu semanas antes do atacante viajar a Portugal.
– Quando o empresário morreu, o Marlon ficou sem chão. Era quem o ajudava. Era só para o empresário que ele podia recorrer. Como ele sempre foi muito sozinho na vida, acabou fazendo algumas besteiras – disse Bianca Neto de Oliveira, 22 anos, mulher de Marlon.
Porto-alegrense, Marlon voltou da Europa para morar com os pais de Eduardo em meados de 2014 e ficou com a família adotiva até conhecer Bianca, com quem passou a morar em novembro de 2016, na casa dos pais dela. O dinheiro nunca deu estabilidade para Marlon que, de família humilde, chegou a passar fome mesmo quando jogava profissionalmente. Bianca garante que não sabia dos crimes, inclusive o sequestro-relâmpago que ele é suspeito de cometer no mês anterior ao início do namoro.
Neste, conforme a vítima, uma mulher de 68 anos, Marlon e um comparsa a renderam na Avenida Ipiranga no dia 26 de outubro de 2016 e a levaram, no próprio veículo, até o Shopping Praia de Belas, onde ela conseguiu abrir a porta do carro e sair correndo. Houve troca de tiros com um segurança, mas os dois criminosos fugiram. A mulher, que não se feriu, reconheceu Marlon na polícia.
– Eu dirigi um pouco e depois ele assumiu a direção. Ele não era tão violento como o outro, mas os dois diziam que iriam estourar meus miolos a todo o momento – descreveu a vítima, sem querer ser identificada.
Para o técnico do Sapucaiense, Alê Menezes, que conviveu com o atacante de 1º de abril deste ano até a prisão, na quarta, Marlon se apresentava diferente. Com o clube, o jogador firmou contrato de três meses e salário de R$ 1.320,00. A transferência do Galísia ao time gaúcho custou R$ 900,00.
– Ele fez uma peneira e contratamos. Era um cara sensacional aqui no clube. Sempre participava dos treinamentos, pedia orientação para mim depois dos jogos, vinha na minha sala para conversar. Ficava além do horário treinando finalização, posicionamento na área. Era sempre um dos primeiros a chegar – contou o técnico.
Nas viagens do clube para disputar a terceirona gaúcha, Marlon era discreto. Sentava na poltrona, coloca os fones de ouvido e ali ficava.
– Não havia nada que desabonasse a sua conduta. Tanto que os jogadores deixam relógio, pulseira, corrente, celular no vestiário e nunca sumiu nada – reforçou o diretor de Futebol do Sapucaiense, Irani Teixeira.
A agenda do atacante, com treinos diários pela manhã e tarde, viagens e jogos faz com que o delegado César Carrion, responsável pela prisão, acredite que Marlon não tenha mais cometido crimes a partir de abril deste ano.
– Não temos nenhuma ocorrência que o cite. E ele estava cumprindo os horários no clube.
Bianca conta que, há cerca de dois meses, Marlon conseguiu emprego à noite para complementar a renda, começou a frequentar a igreja e estava entusiasmado com a possibilidade de se tornar pai neste ano, já que ela está grávida de cinco meses. No entanto, os crimes que ele é suspeito de cometer os levaram para a prisão mesmo depois de ter, pelo que apontam as investigações, mudado o rumo da sua vida. Ele não tem advogado e a sua mãe não quis falar com a reportagem.
Crimes pelos quais Marlon responde:
Todos aconteceram entre a volta dele da Europa e o início do contrato com o Sapucaiense, em um período de dois anos em que esteve desempregado
03/02/2015
Marlon é suspeito de estar dentro de um Peugeot 308 roubado que foi perseguido pela Brigada Militar na Rua Cabral, bairro Bela Vista. Momentos antes, um dos três comparsas teria participado de um roubo a estabelecimento comercial no mesmo bairro. Marlon foi indiciado por corrupção de menor, receptação, roubo de veículo e formação de quadrilha.
07/10/2016
Marlon é flagrado na Avenida Sertório, em Porto Alegre, dirigindo uma EcoSport clonada. Ele foi indiciado por clonagem de veículo e receptação.
22/10/2016
O jogador e um comparsa teriam sequestrado um mulher de 68 anos que saía do shopping Bourbon Ipiranga, em Porto Alegre. A dupla foi com a refém até o Shopping Praia de Belas, onde Marlon teria descido para fazer saques com os cartões da vítima. Um segurança percebeu o ocorrido e reagiu trocando tiros com um dos sequestradores. Os dois criminosos conseguiram fugir. Marlon foi indiciado em dois inquéritos diferentes por sequestro-relâmpago, formação de quadrilha e extorsão.
08/02/2017
Uma mulher foi sequestrada na Rua Roque Callage, em Porto Alegre, por dois criminosos. Eles utilizaram o veículo da vítima para circular com ela pela cidade enquanto faziam pedido de resgate à família no valor de R$ 5 mil. Marlon seria um dos criminosos e foi indiciado por formação de quadrilha e extorsão mediante sequestro.