Treze policiais militares (PMs) de Porto Alegre foram denunciados pelo Ministério Público por tráfico de drogas, comércio ilegal de armas e organização criminosa. Conforme a investigação, os brigadianos do 21º Batalhão de Polícia Militar (BPM), lotados na Restinga, zona sul da Capital, passavam informações sobre barreiras e operações policiais para uma quadrilha especializada em tráfico de entorpecentes, além de fornecerem drogas e armas que eles mesmo apreendiam.
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O grupo, composto por dois sargentos e 11 soldados, é investigado, inclusive, por possível participação em homicídios na região. Todos foram afastados de suas atividades para que não haja interferência nas investigações. Quatro policiais e um morador da Restinga estão presos preventivamente entre o dia 7 de fevereiro e 15 de março. A prisão preventiva dos outros nove PMs e de mais oito pessoas do bairro já foi solicitada pelo Ministério Público, que aguarda decisão da Justiça.
Em conversas interceptadas pela investigação, um dos policiais envolvidos é flagrado tentando revender a um traficante 170 dos 1,3 mil quilos de maconha apreendidos em dezembro de 2015. "Estou com 170kg", "Não quer ficar com um pouco?", ofereceu.
Em outra conversa, em 13 de março de 2016, o policial pergunta a um comparsa se ele "derruba" uma pessoa, pois tinha "um cara precisando de um serviço". O "derruba" é entendido como "mata" pelo Ministério Público. Eles foram flagrados, ainda, tentando comprar um fuzil 556: "Quanto no 556?", pergunta um policial. "28"(mil), responde o vendedor. No decorrer da conversa, o PM tido como líder da quadrilha mostra receio e questiona: "Tá, e como vou saber se você não é policial". Por fim, pede que o vendedor entregue o "bicudo em Poa", mas a compra não se concretiza, pois o armamento já havia sido negociado.
Conforme o subprocurador-geral de Justiça para Assuntos Institucionais do Ministério Público, Fabiano Dallazen, haverá novas fases da operação, mas os detalhes não foram divulgados.
– Estamos trabalhando de forma séria e responsável para punir esses criminosos e, principalmente, extirpar do serviço público aqueles que deveriam estar trabalhando para proteger, mas, que na verdade, estão associados à criminalidade. É um fato triste. Não gostaríamos de estar aqui (falando disso), pois envolve uma grande gama de agentes públicos que comete crimes de extrema gravidade – lamentou o subprocurador-geral. E finalizou:– Esses policiais militares não honram a Brigada Militar. Por isso, não vamos medir esforços para que essa punição seja efetiva e rápida. As provas que foram coletadas certamente levarão à condenação e punição exemplares.
Para BM, ação valoriza os PMs que são honestos
O promotor de Justiça José Nílton Costa de Souza conta que as investigações começaram em setembro de 2016 e que os policiais vêm agindo no mínimo desde dezembro de 2014. Eles tomavam conta do turno e agiam, principalmente, à noite. A Brigada Militar foi quem levantou a suspeita e deu os primeiros passos para identificar os crimes que estavam sendo cometidos. Segundo o corregedor-geral da BM, tenente-coronel Régis Rocha da Rosa, dois sentimentos tomam conta da corporação:
– Tem um lado constrangedor pelo fato de estar nos trazendo essa exposição, de que vários PMs que entraram para defender a sociedade e que em um determinado instante da carreira fizeram a migração para outro lado. Mas há também o sentimento de que fazendo isso, estamos valorizando a imensa maioria de PMs que são honestos – disse.
Cerca de 10% do efetivo do 21º BPM foi denunciado pelo MP, grupo subordinado ao tenente-coronel Márcio Roberto Galdino.
– Estamos em uma fase inicial desta investigação, que é bastante profunda mas que eu não tenho acesso. A gente espera sempre que todos o policiais tenham atitudes corretas, mas, se existe algum ilícito, a gente vai punir – comentou o comandante.