Diante da Catedral Metropolitana de Porto Alegre, duas idosas aguardavam a missa das 18h30min sentadas em um banco na Praça da Matriz. As conversas aleatórias foram interrompidas por estampidos de cinco tiros endereçados a um morador de rua. Paulo Ricardo Camargo de Oliveira, 36 anos, foi atingido no peito e morreu no local, a 1 metro da lona onde se abrigava. A execução à luz do dia ocorreu às 17h15min na frente da Assembleia Legislativa – onde pelo menos três eventos aconteciam simultaneamente – do Palácio Piratini e do Palácio da Justiça. Flagrada também por um representante comercial e um casal que contemplava o entardecer tomando chimarrão, a ação aconteceu sem a menor discrição.
– Eu estava passando e vi dois rapazes chegarem e atirarem cinco vezes. Depois, eles saíram correndo com arma em punho em direção ao Theatro São Pedro. Passaram no meio da praça. Havia crianças brincando, famílias se divertindo – contou um representante comercial de 41 anos.
Leia também:
Homem é executado na frente da esposa e da filha em Porto Alegre
PM que dirigia Uber mata suspeito de assalto e deixa outro baleado
Quatro pessoas são baleadas em festa rave em Gravataí
O crime ocorreu próximo à área infantil, onde crianças brincavam nos balanços. Um porteiro aproveitava a companhia da filha no momento da execução.
– Eu estava com ela no balanço, quando vi um rapaz que chegou e, simplesmente, sacou a arma e entrou na barraquinha do morador de rua. Eu só ouvi quatro estampidos. Foi o momento em que consegui pegar minha filha e sair correndo – disse.
Uma moradora da região descreveu Oliveira como sendo "gentil e cortês". Inclusive, abria a porta do carro para as pessoas. Frequentador da praça, um eletricista de 32 anos se diz assustado com a violência. Minutos após o crime, ele chegou ao espaço com o filho de seis anos.
– Aqui é o quintal da nossa casa. É um local onde há muito policiamento e isso não impede uma coisa dessas. O pior é que não há uma resposta do governo à altura – reclama.
"Era um grande desenhista"
Moradores de rua da região contam que Oliveira trabalhava como cuidador de carros e vendedor de jornal. Há três anos vivendo na praça, era considerado o mais inteligente do grupo que se abriga no entorno.
– Entendia sobre tudo. Não tinha assunto que ele não conhecesse. Também era um grande desenhista. Só que era muito brigão – comentou um jovem.
A Polícia Civil trata o caso como uma execução. A principal linha de investigação é acerto de contas em razão do tráfico de drogas, já que a vítima tinha passagem pela polícia por posse de entorpecentes. Conforme o delegado Cassiano Cabral, da 3ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Porto Alegre, apenas uma pessoa teria participado da ação. O criminoso atirou e correu para um carro que o esperava nas proximidades da praça. O modelo do veículo não foi informado para não atrapalhar a investigação.
– É um local bastante vigiado por câmeras de monitoramento. Então, vamos utilizar esse recurso para tentar identificar o atirador – disse Cabral.
Com essa execução, Porto Alegre chega a 198 homicídios neste ano. No mesmo período do ano passado foram 196, conforme levantamento da editoria de Segurança dos jornais Zero Hora e Diário Gaúcho.