Preso por suspeita de financiar uma quadrilha de roubo de cargas, o delegado Omar Abud foi flagrado com um celular dentro de uma cela da Polícia Civil, em Porto Alegre. O aparelho foi descoberto com o policial durante uma revista de rotina feita na carceragem do Grupamento de Operações Especiais, no Palácio da Polícia, na última sexta-feira.
Conforme o chefe da Polícia Civil, delegado Emerson Wendt, a informação preliminar é de que o aparelho teria sido levado por ele no dia em que foi preso, camuflado nas roupas que vestia.
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Abud não assumiu ser o dono do celular e ficou em silêncio no depoimento. Em contato com a reportagem, a defesa disse que acredita que o aparelho tenha sido usado para falar com parentes.
A delegada plantonista pediu que ele fosse preso em flagrante por causa da atitude. No Judiciário, o juiz plantonista Volnei dos Santos Coelho entendeu que Abud não precisaria permanecer preso por portar o celular. Porém, como tem um mandado de prisão preventiva em vigor, não poderia ser solto.
Abud foi preso durante a Operação Financiador. Deflagrada no dia 21 de fevereiro, a ação do Ministério Público e da Corregedoria da Polícia Civil trouxe à tona um esquema de roubo de cargas. A investigação coloca Abud no topo da quadrilha, junto com o comissário Luis Armindo de Mello Gonçalves, preso no mesmo dia.
Questionado se o preso pode ter atrapalhado a investigação fazendo contato com pessoas de fora do presídio, o chefe de Polícia garante que não:
– Boa parte das provas são técnicas e já estão sendo analisadas.
Uma apuração interna foi aberta para saber como o delegado preso teve acesso ao celular. Wendt afirma que na mesma revista um agente penitenciário que se encontra preso no local também foi flagrado portando um celular.
A Polícia Civil não revelou para quem Abud ligou e alega que isso vai ser mostrado durante o inquérito.
Contraponto
O advogado de Abud, André Luiz Callegari, afirma que o celular não era do policial. Ele acredita que o aparelho tenha sido usado por Abud para falar com parentes e contratar o trabalho da defesa.
– Isso é natural das pessoas que estão isoladas. A explicação é conversar com sua esposa, com seu filho, que ele sente falta, com a sua família. O delegado jamais utilizaria para outra finalidade. Porque, com toda experiência que ele tem, o telefone não seria destinado para outro fim. Até porque ele sabe que existe monitoramento das linhas telefônicas. Que há uma investigação em curso – diz Callegari.
O advogado também contesta as alegações da delegada plantonista, que citou que Abud cometeu receptação dolosa ao falar ao telefone. Segundo Callegari, para ter praticado esse crime, a delegado teria que ter certeza que o aparelho foi adquirido de forma ilícita e essa incoerência teria sido fundamental na interpretação do juiz, que não concedeu a prisão em flagrante.
Callegari também questiona o crime que o juiz atribui ao delegado – de ingressar com o celular na cela. O advogado afirma que é responsabilidade da Polícia Civil fazer revista nos presos para impedir que isso ocorra.