Maior penitenciária do Rio Grande do Norte, a Penitenciária Estadual de Alcaçuz, em Nísia Floresta, cidade ao lado de Natal, registra desde a tarde desta sábado mais um capítulo da guerra entre facções com a morte de ao menos 10 presos. No entanto, como a rebelião ainda não foi controlado e os presos estão soltos dentro do presídio, a expectativa é de que o número de vítimas seja bem maior – cerca de 100, segundo a presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários (Sindasp) do RN, Vilma Batista:
– De cima das guaritas, dá pra ver que superou Manaus (o massacre na Compaj registrou 56 mortos). É só cabeça sendo jogada por cima do muro – afirmou Vilma, que também coordena a Federação Nacional dos Servidores Penitenciários, a ZH.
De acordo a assessoria do governo estadual, a rebelião começou devido a uma briga entre as facções Primeiro Comando da Capital (PCC) e Sindicato do Crime, quando, por volta das 16h30min no horário local (17h30min de Brasília), presos teriam invadido o pavilhão 1 e o 5, comandado por inimigos.
Segundo o major da Polícia Militar Wellington Camilo da Silva informou ao Estadão, os detentos invadiram uma sala do presídio onde eram guardados os armamentos, expulsaram os agentes penitenciários e tomaram conta da prisão. Os rebelados cortaram a energia do local, dificultando a visão e a atuação da polícia, que só foi restabelecida no final da noite.
– Neste momento não há condições de a polícia entrar no local. São mais de mil presos, todos fora de suas celas e alguns deles armados. O que estamos fazendo agora é uma ação para evitar uma fuga em massa desses presos – disse Silva.
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Policiais militares e agentes penitenciários informaram que irão esperar o dia amanhecer para entrar nos pavilhões e checar a situação. No entanto, a área externa de Alcaçuz já estaria sob o controle das autoridades. As saídas foram bloqueadas e o Corpo de Bombeiros está fazendo barricadas no local.
Em Alcaçuz, segundo fonte ouvida pelo Estado, os pavilhões 1, 2, 3 e 4 são dominados pelo Sindicato do Crime RN e o 5 encontra-se com presos com algum tipo de ligação o PCC.
O Batalhão de Choque e o Bope estão no local para tentar conter a rebelião. O governo um grupo de gerenciamento de crise para acompanhar a rebelião com integrantes de todas as forças de segurança do estado e Ministério Público. O grupo, segundo a assessoria do governo, vai trabalhar em regime de plantão para tentar reverter a situação de descontrole dentro do sistema prisional.
A Secretaria de Estado da Segurança Pública e da Defesa Social (Sesed) emitiu nota na noite deste sábado informando que montou o Gabinete de Gestão Integrada (GGI) para executar as ações a serem empregadas na rebelião do presídio de Alcaçuz. "Já estão no local o Batalhão de Operações Especiais (BOPE), o Batalhão de Choque e a Força Nacional para evitar mais confrontos e controlar a situação. Há registro de mortes resultado de uma briga entre facções rivais".
Alcaçuz fica em Nísia Floresta, cidade da Grande Natal. A unidade possui cerca de 1.150 presos e capacidade para 620 detentos, segundo a Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejuc).
O Rio Grande do Norte viveu uma crise de segurança pública no ano passado, com ataques a ônibus. A Força Nacional chegou a ser enviada para o Estado.
A rebelião deste sábado é mais um capítulo da guerra entre facções criminosas dentro de presídios, que ganhou força na virada do ano com a morte de 56 presos no Complexo Penitenciário Anísio Jobim, em Manaus, e, cinco dias depois, a matança de 31 detentos na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (PAMC), em Boa Vista, Roraima.