Se em 2016, Porto Alegre bateu recorde no número de homicídios e latrocínios com aumento de 27,7% (778) em relação ao ano anterior, 2017 parece que não será diferente. Nos primeiros 15 dias do ano, a Capital registrou 18,4% mais mortes do que no mesmo período de 2016.
Segundo levantamento da Editoria de Segurança, são 45 assassinatos contra 38 do ano passado – uma média de três mortes por dia. Os bairros que mais despontam com homicídios são o Mário Quintana (oito), Sarandi (oito) e Rubem Berta (cinco), todos na Zona Norte. A guerra entre as facções criminosas rivais naquela região se intensificou logo após o Natal.
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Conforme o delegado Paulo Grillo, diretor do Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), a disputa entre grupos criminosos acontece em toda a cidade, mas se concentra de forma sazonal em regiões.
Embora a maior parte dos homicídios não tenha a motivação clara no dia do crime, em 47,8% dos casos a linha de investigação seguiu com base em conflitos relacionados ao tráfico. Nesta área conflagrada da Zona Norte, por exemplo, foram registrados quatro duplo homicídios (sendo dois com morte de casais) e uma chacina (com quatro mortos).
Grillo afirma que o Departamento de Homicídios encaminhou 1.142 inquéritos ao Judiciário no ano passado e prendeu 500 pessoas. Além disso, garante que tem monitorado a manutenção das prisões e que pelo menos 80% dos presos continuam encarcerados. Na avaliação dele, a resolução da criminalidade transcende a segurança pública.
– A polícia sozinha não vai resolver. A gente enche o presídio de gente e a criminalidade não diminui. Acho que precisa haver uma reflexão, chamar todas as instituições públicas. O Estado tem de cumprir seu papel com saúde, educação e assistência social.
Consumo de drogas fortalece facções
O diretor do DHPP, Paulo Grillo, destaca dois fatores que contribuem com o aumento da criminalidade em Porto Alegre. Um deles é a falha na fiscalização das fronteiras, por onde entram os armamentos pesados que abastecem as facções. Conforme levantamento da Editoria de Segurança, 90% das vítimas deste ano foram mortas a tiros, sendo que a maioria dos crimes ocorreu na madrugada. Outra questão seria a falha na gestão do sistema penitenciário, que facilita organização de grupos criminosos.
– O pano de fundo de tudo isso é o tráfico de drogas. Eles estão se matando e a maioria das pessoas que morreram já tinham antecedentes criminais – concluiu.
A Brigada Militar, responsável pelo policiamento ostensivo, também repercute o aumento no número de mortes, principalmente na região Norte. O comandante de Policiamento da Capital, coronel Mário Ikeda, percebe que quanto maior o número de usuários de droga, maior a violência.
– Aumentou o número de usuários, o que reflete no poder aquisitivo das facções. Elas estão mais armadas e mais violentas. A gente tem apreendido pistolas importadas com grande poder de fogo nas operações.
Na Região Metropolitana, crimes com extrema violência
A arrancada violenta de 2017 não foi percebida só na Capital. Embora as cidades da Região Metropolitana tenham registrado redução de 4,5% nos primeiros 15 dias do ano, alguns municípios ficaram marcados por crimes mais bárbaros.
Em Viamão, três vítimas foram esquartejadas. Duas delas foram encontradas sem os braços e carbonizadas dentro de um carro. O crime assustou os moradores do bairro Santa Isabel, que acordaram com o carro em chamas no meio da madrugada do dia 5. Em 3 de janeiro, uma estudante de Direito foi morta a tiros e facadas em São Leopoldo.
No último fim de semana, a polícia registrou esquartejamento, decapitação e chacina. Um corpo foi encontrado em pedaços dentro de sacos de lixo em Sapucaia do Sul e outra vítima foi encontrada decapitada e queimada no porta-malas de um carro em Gravataí. A chacina ocorreu em São Leopoldo, onde quatro homens foram assassinados dentro de um bar.