Dias depois que um conflito de facções criminosas deixou 56 mortos em uma cadeia de Manaus, o governo de Roraima disse ter encontrado 31 corpos na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc) na madrugada desta sexta-feira. Policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar entraram no presídio no começo da manhã e a situação já está sob controle. Inicialmente, as autoridades chegaram a informar que havia 33 vítimas, mas o número foi posteriormente revisado pela Secretaria de Justiça de Roraima.
A maioria das vítimas foi decapitada, teve o coração arrancado ou foi desmembrada. Os corpos foram jogados em um corredor que dá acesso às alas. As autoridades, no entanto, ainda não divulgaram outros detalhes sobre as mortes. O estabelecimento é local de cumprimento de pena em regime fechado e não possui aparelho para bloqueio de celular ou oficinas de trabalho.
Todos os mortos seriam integrantes da facção Comando Vermelho (CV), que domina cerca de 10% do presídio. Os outros 90% são controlados pelo grupo rival Primeiro Comando da Capital (PCC). Conforme o secretário de Justiça e Cidadania, Uziel de Castro Júnior, o massacre foi "possivelmente" cometido pelo PCC.
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A Pamc é a maior casa prisional de Roraima. A penitenciária é a mesma cadeia onde, em outubro, um conflito entre presos deixou 10 mortos e seis feridos. Até junho passado, PCC e CV eram aliados na disputa pelo controle do tráfico na fronteira com o Paraguai.
De acordo com um levantamento do jornal Folha de S. Paulo, os primeiros seis dias de 2017 já somam 95 mortes nas casas prisionais do país. O número representa 25% do total de mortes (372) registradas durante todo o ano passado.
Condições do presídio são "péssimas", segundo CNJ
Um relatório do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aponta que a Penitenciária Agrícola de Boa Vista (Pamc) possui condições "péssimas". Segundo o CNJ, o local tem capacidade para 750 detentos, mas possui 1.398. O sistema prisional Roraima atendem atualmente quase o dobro da capacidade.
Segundo o Relatório Mensal do Cadastro Nacional de Inspeções nos Estabelecimentos Penais do CNJ, na inspeção, não foram encontradas armas de fogo ou instrumentos capazes de ofender a integridade física. Porém, foram apreendidos 113 aparelhos de comunicação ou acessórios.
Terceiro maior massacre
Este é o terceiro maior massacre em presídios, em número de mortes, na história do Brasil, atrás apenas do ocorrido no Carandiru, em São Paulo, em 1992, quando 111 presos foram mortos e de Manaus onde foram mortos 60 presos esta semana.
Os detentos quebraram os cadeados e invadiram a Ala 5, cozinha e cadeião onde ficavam os presos de menor periculosidade. De acordo com informações de agentes penitenciários, não houve fugas.
Policiais militares do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e agentes penitenciários do Grupo de Intervenção Tática (GIT) entraram na unidade, que hoje abriga 1,2 mil presos, o dobro da capacidade. Na manhã desta sexta-feira, equipes do Instituto Médico Legal (IML) foram à penitenciária para fazer a remoção dos corpos.