A construção de um soldado disposto a matar ou morrer pelo tráfico é turbinada pelas cadeias lotadas, mas começa muito antes. É papel do pai, ou da figura paterna, por exemplo, na formação da personalidade, mostrar os limites. E este, de acordo com o psiquiatra Luiz Carlos Illafont Coronel, é o ponto principal de ruptura que se vê nas periferias.
– A sociedade precisa oferecer a essas famílias o suporte para contrapor ausência paterna, ou o enfraquecimento paterno. Seja com mais creches, escolas de tempo integral ou atividades comunitárias. Se o Estado não investir nessas questões básicas, o jovem busca um pai com valores errados – explica.
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Não é à toa, lembra o psiquiatra, que os líderes de facções são chamados de "patrões". A maior parte deles, segundo ele, tem transtorno antissocial de personalidade. São frios, cometem as maiores atrocidades e não demonstram arrependimento, mas principalmente, são líderes e manipuladores. É a este perfil que um integrante de bonde tenta agradar e se identificar.
Sem referências positivas, o comportamento violento tende a se multiplicar. Em 70% dos casos de criminosos com transtorno antissocial de personalidade, por exemplo, houve, sobretudo na infância, algum episódio violento – físico, psicológico, mental, abandono ou negligência – que o marcou para sempre.
Veja, no caso concreto do bonde preso no Beco do Adelar em outubro, como a situação descrita pelos especialistas se reproduz nas ruas.