O policial pergunta:
– Você se arrepende do que fez?
O jovem de 19 anos respira fundo, olha para os lados e, seco, responde:
– Não, não me arrependo.
Foi assim, a sangue frio, que um dos suspeitos de participação no assassinato e esquartejamento do jovem Sérgio Eraldo Gomes Guimarães, 21 anos, no dia 4 de agosto, encerrou o depoimento aos investigadores da 5ª DHPP depois de ser capturado em sua casa, no Loteamento Timbaúva, bairro Mario Quintana, na zona norte de Porto Alegre. Ele foi preso temporariamente ainda na última sexta-feira, mas a prisão só foi anunciada na manhã desta segunda-feira pelo Departamento de Homicídios.
Pelo menos outros dois suspeitos ainda são investigados pela polícia por esse crime. A polícia não descarta a participação do mesmo suspeito em outros casos de esquartejamento recentes no mesmo bairro.
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A investigação apurou que Sérgio Eraldo foi morto simplesmente por ser morador da Vila Santa Rosa, no bairro Rubem Berta, e ter sido visto circulando pelas ruas do Loteamento Timbaúva. Conforme o levantamento da polícia, criminosos suspeitavam que ele estivesse passando informações sobre eles aos traficantes rivais, da Santa Rosa.
– A vítima não tinha antecedentes criminais, mas tivemos informações de que teria traficado sim, por um tempo, na Vila Santa Rosa. Mas não tinha qualquer posição de liderança ou estratégica que justificasse ser o alvo de uma execução dessa forma – diz a delegada Luciana Smith, responsável pela apuração.
Na noite da sua morte, Sérgio Eraldo havia visitado, com a namorada, uma mãe de santo no Loteamento Timbaúva e, em certo momento, saiu para conversar com o proprietário de uma casa que pretendia alugar naquela região. Não tendo encontrado o homem, ele voltou à casa da mãe de santo e, ao sair dali sozinho novamente, não foi mais visto.
O jovem preso temporariamente confessou que naquele momento ele atacou Sérgio Eraldo, atingindo-o com um tiro na barriga. O rapaz teria sido arrastado até uma casa a apenas 60 metros do local onde mora o suspeito. Lá, teria sido baleado mais uma vez enquanto passava por uma espécie de interrogatório sob tortura. Perguntavam se ele era de uma facção rival. Aterrorizado, o rapaz teria confirmado. Foi então sentenciado à morte.
E aí foi atacado com pelo menos uma foice, um facão e martelo para que fosse desmembrado. O relatório da perícia confirmou aos policiais que Sérgio Eraldo não morreu pelos tiros, mas provavelmente enquanto já era esquartejado.
O corpo foi encontrado na manhã seguinte, separado da cabeça, no cruzamento entre a Estrada Martim Félix Berta e a Avenida Ely Correa Prado, uma das principais vias do bairro Mario Quintana, como forma de ameaçar um dos principais líderes da facção rival à dos criminosos que atuam no Loteamento Timbaúva.
A partir de um vídeo que circulou em grupos de WhatsApp, a polícia sabe que pelo menos outros dois homens participaram do esquartejamento. O preso não os identificou, e negou participação no abandono do corpo.