Enquanto as mulheres são cada vez mais alvos de roubos seguidos de morte, os autores desses crimes são cada vez mais jovens. Em 2011, a média de idade dos presos ou indiciados por latrocínio na Capital era de 26,3 anos. Neste ano, a média caiu para 19,6 anos. Até o final de agosto, pelo menos nove adolescentes foram apreendidos por envolvimento em algum nos latrocínios ocorridos este ano na Capital.
– Eles tomam a frente no crime, mas, pela inexperiência, atacam a vítima já com a arma engatilhada. Com um agravante, muitas vezes sob efeito de drogas, se assustam facilmente. Alguém com o dedo no gatilho, que se assuste com qualquer movimento ou reação da vítima, atira – afirma o delegado Luciano Coelho, titular da 13ª DP.
Enquanto relatava aos policiais o crime que vitimou a estudante Sara Votto Tótaro, 22 anos, morta com um tiro ainda no banco traseiro do carro da família, o adolescente de 16 anos, apontado pela polícia como autor do disparo, era frio. Contava a tragédia daquela família quase como um episódio corriqueiro no seu dia a dia.
– Ao que tudo indica ele atirou no susto, não esperava que houvesse alguém no banco traseiro. Mas depois de cometido o crime, não demonstrou nenhum arrependimento – conta o delegado Luciano Coelho.
Aquele roubo no Bairro Cavalhada parecia seguir o script preferido pelo criminoso. Uma mulher (mãe da Sara) estava no volante do Volkswagen Up. Mas os vidros do carro eram escuros. Havia no veículo ainda o pai e a irmã de Sara. E aí entrou outro elemento explosivo na cena do crime: eram dois adolescentes e dois adultos. Os quatro, segundo o delegado, inexperientes.
Os números que mostram a inexperiência dos criminosos foram apurados pelo Diário Gaúcho ao checar os perfis dos autores apontados em 124 dos pelo menos 135 crimes desse tipo ocorridos em Porto Alegre entre 2011 e agosto de 2016. O diretor do Departamento Regional de Polícia de Porto Alegre, delegado Cléber Ferreira, um dos delegados mais experientes da polícia gaúcha, desabafa:
– Eu nunca vi uma geração tão violenta quanto essa.
Ele considera raros os casos atuais de roubos que não envolvam muita violência. E, ainda que seja mais esperado o susto em ladrões novatos, para ele, os jovens estão mais predispostos a atirar:
– Ele quer aquele bem, mas também quer agredir a vítima. Não basta só roubar. Cada vez mais nos deparamos com vídeos destes assaltos, e a vítima é agredida antes e depois de perder o bem – comenta o delegado.
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A explicação para este comportamento, aponta o promotor da Infância e Juventude, Júlio Almeida, pode estar na impunidade.
– A medida infracional precisa ser proporcional ao ato do jovem, o tempo necessário à ressocialização. Mas temos hoje o mesmo problema do sistema prisional, faltam vagas. O governo precisa disponibilizar mais vagas no sistema. Estes jovens voltam mais rápidos para as ruas – relata.
Em vez de reduzir a maioridade penal, Júlio Almeida defende o aumento do tempo de internação dos adolescentes envolvidos em atos infracionais mais graves. Hoje, o período máximo é de três anos. Este prazo poderia, na proposta do Ministério Público, ser estendido para seis ou oito anos.
– Seria uma solução mais adequada, diferente da redução da maioridade penal, que jogaria os adolescentes no centro das facções. Aí, já sairiam das prisões com novas "encomendas" de roubos – acredita o promotor.
Ele também aponta a necessidade de aumentar a pena pela corrupção de menores, que prevê hoje a prisão de um a quatro anos. Seria uma forma de inibir o adulto que coloca o adolescente na linha de frente dos crimes.
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