Os assaltos cresceram em compasso desenfreado em Gravataí nos últimos cinco anos. Os 543 roubos registrados nos seis primeiros meses de 2012 na cidade frente aos 1.610 no mesmo período de 2016 representam uma alta de 196,5%, a mais vultosa entre os mais populosos municípios do Estado.
O crime tem preocupado especialmente comerciantes, que acumulam prejuízos decorrentes de assaltos. Na área central, tornou-se artigo raro encontrar um estabelecimento que não tenha sido alvo dos criminosos. Uma loja de calçados exemplifica o cenário de insegurança. Foram seis assaltos em seis meses seguidos cometidos pelo mesmo ladrão. E pelo menos outros dois estabelecimentos do ramo também foram alvo do criminoso no período.
– Na primeira vez, ele mostrou a arma. Nas outras, nem precisava mais. Fica um sentimento de impotência, porque ouvi da própria polícia que não conseguia prendê-lo.
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A 60 metros do local, uma joalheria tornou-se mira da criminalidade em novembro. Três homens entraram no estabelecimento em uma tarde de segunda-feira e renderam a proprietária, funcionários e os clientes. Na fuga, os bandidos depararam com dois PMs. Teve início tiroteio em plena área central da cidade, no qual morreu um policial.
– Dá para contar nos dedos o comércio que nunca foi assaltado. Não adianta, não há o que fazer. Temos de ter cuidado, reduzir os horários de atendimento e estar a cada dia mais atentos – desabafa a proprietária.
Neste mês, a direção do Sindilojas da cidade se reuniu com a BM para pedir socorro. Definiu-se a criação de um grupo de WhatsApp entre comerciantes e policiais em uma tentativa de coibir o avanço dos assaltos.
– Os soldados que entrarem na academia nesse ano só se formarão no ano que vem. Então, a situação não irá mudar muito. Estamos buscando outras alternativas para, se não estancar, ao menos manter os números estáveis – diz o comandante do 17º Batalhão da Polícia Militar (BPM), de Gravataí, tenente-coronel Marcelo Couto.
O município também recebeu incremento de 90 PMs e 20 viaturas na Operação Avante e decidiu fechar o expediente administrativo durante um dia na semana para colocar todo o efetivo na rua e policiar o comércio e as paradas de ônibus. Para o delegado regional de Gravataí, Eduardo Hartz, parte da concentração de crimes na cidade se explica pela proximidade do município com rodovias como a freeway, a ERS-030 e a ERS-118:
– Essa característica vulnerabiliza a cidade em função da facilidade com que se busca uma rota de fuga. É um fato que ajuda a explicar, porque rapidamente se está fora do município.
São Leopoldo, onde o roubo de carros cresceu 143%
Em meia década, a frota de veículos subiu 16% em São Leopoldo. No mesmo período, o roubo de veículos ascendeu em ritmo bem mais acelerado: 142,9%. O município da Região Metropolitana concentra a maior alta no crime entre as 10 cidades mais populosas do Estado em cinco anos. Foram 184 veículos levados pelos criminosos no primeiro semestre de 2012, e 447 no mesmo período de 2016 – uma disparada na criminalidade que atemoriza a população.
Uma empresária de 55 anos, que prefere não ser identificada, entrou para a estatística em abril deste ano. Ela estava em frente a escola infantil que administra, com a filha adolescente, quando dois homens se aproximaram. Os assaltantes colocaram a arma na cabeça da menina e pediram que a mãe entregasse a chave da caminhonete Tucson que dirigia.
– Passei a ter medo de tudo. Não vou nem mais colocar o lixo em frente à escola sozinha. A insegurança virou uma rotina. Está bem complicado – desabafa.
O delegado regional de São Leopoldo, Roselino Seara, acredita que a vizinhança com Sapucaia do Sul – historicamente, cidade onde se concentram as principais quadrilhas de furto e roubo de veículos no Estado – exerça influência no crescente indicador. Entretanto, afirma que a impunidade é um incentivo ao delito.
– É um crime pelo qual os bandidos não costumam ficar presos, em função da falta de vagas nos presídios. Eles acabam se amotinando nas delegacias, o que impede que façamos um trabalho mais forte. Não há onde colocá-los – pontua.
Para o comandante do 25º Batalhão da Polícia Militar (BPM), de São Leopoldo, coronel Ronie Coimbra, o incremento de policiais deslocados pela Operação Avante pode auxiliar na redução do crime.
– As quadrilhas da Região Metropolitana não enxergam esse território entre os municípios. Dependendo do que há de ação policial, elas migram para os locais onde entendem que terão melhor atuação – destaca.