A família da funcionária terceirizada da Infraero brutalmente assassinada há uma semana na saída do aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, relata que Mineia Sant Anna Machado, 39 anos, estava com medo nos dias que antecederam sua morte. Segundo a mãe, Marta Sant Anna, 58 anos, a filha estava sendo assediada por mensagens anônimas.
– Alguém estava deixando bilhetes no carro dela, com corações, elogios, até "te amo". Ela estava com medo. Naquela semana (anterior ao crime), pedia sempre que algum colega a acompanhasse até o carro – afirma a dona de casa.
As informações não são novas para a polícia. Desde o desaparecimento da atendente do balcão de informações da Infraero, os investigadores sabiam do admirador secreto e também de outras suposições, como o envolvimento com drogas de um conhecido de Mineia. No entanto, para o delegado Cléber Ferreira, a principal hipótese, desde que os suspeitos foram presos, segue sendo latrocínio (roubo com morte).
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O principal motivo está nos depoimentos do homem de 32 anos e do adolescente de 16, que confessaram o roubo do Uno ano 1996, com suposto objetivo de cometer outros crimes. Além disso, câmeras de segurança mostram a dupla caminhando, desde o triângulo da Avenida Assis Brasil até o aeroporto, e analisando possíveis veículos a serem roubados.
– A gente vai investigar todas as possíveis motivações e descartar todas as hipóteses, uma a uma. Mas, para mim, o caso foi latrocínio – afirma Ferreira.
O delegado, com 45 anos de Polícia Civil, entretanto, revela que há peças para encaixar. Sem dar detalhes, pois a investigação ainda está em andamento, procura entender quatro itens que se distanciam da possibilidade de assalto:
1) O alvo – Um Uno com 20 anos de uso poderia ter sido furtado, por causa dos fracos dispositivos de segurança, ou seja, não era preciso atacar a dona para levá-lo.
2) Baixa potência – O fato de o carro ser 1.0 e não ter potencial para possíveis fugas após outros crimes.
3) Suposto sequestro – A motivação de amarrar com lacre as mãos da vítima.
4) Brutalidade – Uso de crueldade para matar a vítima (Mineia teria recebido choque elétrico e sido agredida com golpes de chave de fenda).
Segundo os suspeitos contaram à polícia, a chave de fenda pertencia à própria vítima e estava no Uno. A família confirma: o material servia para os finais de semana no litoral gaúcho, aonde Mineia costumava levar o filho de criação, Emanuel, de 11 anos, os pais e a irmã.
Terceira pessoa pode estar envolvida
Algumas respostas sobre o caso devem ser esclarecidas com o resultado de exames periciais requisitados pela investigação, como a necropsia, análise do carro e do sangue encontrado na porta traseira, além de testes de DNA. A polícia investiga a possível participação de uma terceira pessoa, mas não dá detalhes.
Jhonny Maicon Camargo, 32 anos, que já havia trabalhado no aeroporto como eletricista, segue preso. Segundo a polícia, ele não conhecia Mineia, o que também afasta a possibilidade de crime passional. Já o adolescente, com 16 anos, segue internado na Fundação de Atendimento Socioeducativo (Fase).
Tudo o que Marta e a família pedem é justiça e mais segurança. Para chamar a atenção, neste sábado, às 14h, farão um protesto junto com funcionários do aeroporto, onde Mineia trabalhou por 18 anos em vários setores.