Três dias depois de desaparecer na saída do trabalho, no aeroporto Salgado Filho, Mineia Sant Anna Machado, 39 anos, foi encontrada morta pela polícia. O corpo foi localizado em um matagal às margens da BR-386, em Montenegro, após um homem de 32 anos e um adolescente de 16 anos confessarem o crime. Eles foram detidos em flagrante na cidade de Lajeado, na noite de domingo, com o carro da vítima e a mesma roupa usada no dia do ataque. A dupla afirmou ter abordado Mineia para roubar dela um Uno bordô, ano 1996.
O delegado Cléber Ferreira, titular da Delegacia de Polícia para o Turista (DPTur), localizada dentro do Salgado Filho e onde o desaparecimento de Mineia foi registrado na manhã de sexta-feira, apesar dos mais de 30 anos de carreira, se disse surpreso com a forma de ação dos suspeitos. Em depoimento, Dione Maicon Camargo de Mattos e o adolescente contaram que o assassinato teria sido cometido apenas pelo garoto e que a vítima foi escolhida aleatoriamente.
– Pela idade dele (do adolescente), achei de uma frieza impressionante. A forma como narra os fatos, sem emoção nenhuma, sem demonstrar arrependimento algum. Foi frio a ponto de dizer "Dei o golpe no peito dela, com vontade de atingir o coração". É uma demonstração gratuita de ódio – relatou Ferreira.
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Imagens de câmeras de segurança corroboram a tese de que a vítima foi eleita ao acaso. Nos vídeos, a dupla é vista caminhando pela Avenida Sertório, analisando carros em um posto de combustíveis, antes de chegar ao aeroporto. Lá dentro, caminharam por cerca de uma hora e meia. Observaram Mineia entrar no carro e, de posse de uma arma – que depois disseram ser de brinquedo –, os dois abordaram a vítima quando ela começava a manobrar o veículo.
Durante o trajeto pela BR-386, em direção a Lajeado, Mineia ainda foi torturada com choques elétricos.
– Em nenhum momento eles relatam que ela ofereceu resistência. Só pedia que não a maltratassem. Ao descer do carro, ela foi atraída pela promessa de que seria libertada – conta Ferreira.
No matagal, às margens da rodovia, a funcionária terceirizada do aeroporto foi morta pelo adolescente com uma torção do pescoço, seguida por golpes de chave de fenda na cabeça e no peito. A perícia confirmou que os ferimentos eram compatíveis com o relato. Ao voltar para o carro, o garoto teria dito ao comparsa: "Não temos mais testemunha contra nós". O corpo foi deixado ali e, a poucos quilômetros de distância, o Uno foi abandonado.
Segundo a polícia, a intenção da dupla era usar o carro para assaltar um posto de gasolina e cometer outros crimes, além de vender o veículo. O dinheiro teria dois destinos: investir na casa de prostituição da qual a mulher de Mattos é dona em Arroio do Meio, no Vale do Taquari, e pagar ingresso para um show ao qual o adolescente pretendia ir.
Suspeito de 16 anos tinha antecedentes por homicídios
Mattos não tem antecedentes criminais, mas disse à polícia que gerenciava a casa de prostituição em Arroio do Meio e responde a um processo por exploração sexual de meninas. Ele trabalhou para uma empresa terceirizada que faz manutenção no Salgado Filho, como eletricista. Isso pode ter ajudado, segundo a polícia, a conhecer a região e o aeroporto. A investigação não apontou indícios de que a dupla conhecesse a vítima. Encaminhado para o Presídio Central, Mattos vai responder pelos crimes de latrocínio e ocultação de cadáver.
O adolescente já respondeu por dois homicídios, porte de arma e tráfico de drogas e estava foragido da Fundação de Atendimento Sócio-Educativo (Fase). Em depoimento, afirmou que cometeu mais crimes do que os registros comprovam e ainda se intitulou membro da facção Bala na Cara. Questionado sobre a tatuagem característica de integrantes do grupo, afirmou que não a possuía "para não dar na vista".
O adolescente teria ido da Região Metropolitana para o Vale do Taquari com um comparsa há cerca de um mês. Após uma briga, teria sido acolhido por Mattos e passado a ajudar na casa de prostituição. Ele disse à polícia que aliciava meninas para trabalhar no local e que cometia assaltos para se sustentar. Afirmou ainda ser o motorista do Civic preto que participou da troca de tiros anterior ao confronto entre traficantes e brigadianos em frente ao Hospital Cristo Redentor, em abril.
– Contou tudo isso se vangloriando – disse Ferreira.
O adolescente, apreendido e encaminhado à Delegacia de Polícia para Crianças e Adolescentes (Deca), também deve ser responsabilizado por latrocínio e ocultação de cadáver. Até o final da noite de ontem, a polícia aguardava a decisão da Justiça em relação ao pedido de internação dele.